26 de novembro de 2007

E quem não vai torcer
Pro coração bater
Dá-lhe viver!
Dá-lhe viver!

Nação Zumbi

25 de novembro de 2007

Domingo 3

Ser repórti. Ponte Salvador-São Paulo

14h24. Na capital baiana, arde o sol lá fora. Da redação, ouço torcedores eufóricos transitar pela avenida Tancredo Neves. É dia de jogo do Bahia e a praia deve estar "bombando". 14h25. Dia normal em São Paulo. E por "normal" na Terra da Garoa, entende-se: tempo nublado, meio quente, meio frio, sem chuva. A quilômetros de distância de Cira do Acarajé, um retirante confessa: está ansioso em ver o jogo do Baêa.

Tássia N. diz: tô boa, e vc?
Bito diz: to bem... chateado por estar de plantão hj... nem era meu dia. Pelo menos tô matando as saudades de cobrir esporte, uma matéria sobre a Copa do Mundo de Natação.
Tássia N. diz: eu tô aqui com a baianada que rodou na Operação Jaleco Branco

[um minuto de silêncio...]

Tássia N. diz: Putz, detesto trabalhar domingo
Bito diz: Eu detesto trabalhar e ponto. Na verdade eu só trabalho pra conseguir folga
Tássia N. diz: he he he. Tudo bem, você ganhou...

Domingo 2

Bicho do mato
Quero você para mim

Jorge Ben

Domingo é um dia falso

24 de novembro de 2007

Sábado

É que de repente tudo vira absurdo
Tudo salta sobre o muro
O mundo fica sobre a gente
E se de repente a gente fica sobre o muro
A vida passa em um segundo
O mundo fica sobre a gente
Caia na madruga!

Lampirônicos

21 de novembro de 2007

Miércoles

Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo

Drummond

Faz o favor!

Se tem uma coisa que não tolero - e não é de hoje não, é desde quando me entendo por gente - é gente intrometida. Tipinhos que soltam, assim, com ar de quem não quer nada, comentários importunos. Por natureza, sou reservada, embora bastante sociável. Não me importa se sua bolsa não combina com você tampouco faz diferença com quem você sai depois do trabalho. É assim que me comporto e é assim que exijo ser tratada. Gosto da humanidade, mas não necessariamente de gente. Até mesmo porque gente é um bicho muito complicado. Se não sabe ficar na sua, meu caro, é eu cá e você lá. Lá longe. E não se fala mais nisso.

20 de novembro de 2007

Martes

Procuro sempre,
e minha procura
ficará sendo
minha palavra

Drummond

















Um minuto de reflexão. Respirar.

19 de novembro de 2007

Lunes

Amar o perdido
deixa confundido
este coração

Drummond

11 de novembro de 2007

Ele, o gatão

Hoje, a caminho da praia


Bóris é um pouco maior que os demais labradores e isso causa um certo pânico quando ele se aproxima de desconhecidos. No geral, confundem com outras raças e logo associam a um cachorro valente. Hoje mesmo na praia um senhor se aproximou desconfiado. É fila?, perguntou. Não, é um labrador, respondi. Desse tamanho? Com essa pata?, contestou. É. E é puro com pedigree, rebati. Não pode, te venderam misturado, não tá vendo que só o fila tem a pata assim?!, resmungou.

Pois, que engano. Bóris não estava a venda em um petshop. Veio de presente. A ninhada toda saiu assim, robusta. A mãe não só é purissima como é gringa. É canadense. O pai, um varão reprodutor, é daqui das áreas mesmo. Vivem em uma fazenda a beira-mar na Linha Verde.

Safira tem um colega que cria 7, nenhum do tamanho de Bóris. Os de seo Ari também são menores - embora não menos belos. Filha e genro já comprovaram. Luisa, minha prima, tem um amarelo, que também se chama Bóris, mas é mirradinho. Luciano, o veterinário da UFBA que acompanha o crescimento de El Terrible, foi o primeiro a avisar que ele é fora da regra. Desde os quatro meses, Bóris já apontava além da conta. O adestrador, um rapaz chamado Prazeres, dono de uma casa de produtos veterinários e adestrador da Polícia Militar, disse ter visto um assim apenas uma vez na vida. Bóris é o segundo em seus mais de 10 anos de experiência com cachorros.

Mas não é pra contar vantagem que destaco tudo isso. Pelo contrário. Por ser alto, Bóris não pode comer com o prato no chão. Se enverga muito, pode dar dor na coluna com o passar do tempo, advertiu o adestrador. Resultado, papai providenciou um apoio pro prato. Em carro duas portas, não gosta de entrar. O espaço para passar pro banco do fundo é pequeno. Só gosta de quatro portas. No sofá, tá proibido de sentar. Não sobra espaço pra ninguém. E na praia, quando ele passa, todos se afastam.

Às vezes fico com dó. Hoje mesmo, todo curioso, doido pra se aproximar das pessoas. Queria correr, queria roubar a bola do frescobol, implorou pra ficar sem coleira. Mas fazer o quê, né. Não dá.

E eu, com o máximo de cuidado, procurei um sombreiro afastado pra não importunar ninguém, me aparece um poodle micro-toy branco, solto e ousado. Parecia uma punça andante. Saiu não-sei-de-onde pra provocar Bóris, que, por tabela, levantou de prontidão quase derrubando a mesa de plástico. Enquanto o poodle latia, Bóris o olhava com ar impaciente. Não rosnou nem latiu nem avançou mas também não recuou. Ficou um clima tenso e eu não tava gostando nada daquilo. Até que me aparece a dona, uma patricinha mais ousada que a cria. Devia ser proibido andar com esses cachorros na praia, disse, cheia de atrevimento. Que pessoa sem noção!, pensei imediatamente. Você que não devia andar com sua pulga solta por ai, fosse um pitbull não tinha sobrado nada, disse.

Fato é que a disparidade de cor e tamanho pedia uma foto, mas minhas mãos tavam ocupadaa segurando o enforcador.

Habaianas, as legítimas

Ontem, na Praia do Flamengo

9 de novembro de 2007

Luto

Enterrado esta manhã, no cemitério Bosque da Paz, o jornalista Gerson dos Santos.
Talvez não exista outra pessoa que tenha vibrado de forma tão intensa, como Gerson, quando escolhi ser jornalista. Mais que minha mãe, meu avô e meu tio, todos jornalistas. Digo com convicção, sem medo de ser piegas, condição natural de quem sente o peito apertar, quando a tarde de repente fica cinza em plena sexta-feira. É que Gerson, sua esposa Nice, Artur e Sissi, os filhos, sempre foram muito presentes na minha família.

Final dos anos 80, muitas foram as vezes em que nos divertimos noite a dentro, lá em casa, junto com a turminha da extinta Revisão. No repertório, músicas, histórias sem ter fim e muita comida gostosa.

Eu, criança, achava o máximo todas aquelas histórias de jornalistas. [Reflito: acho que foi aí que cometi o crime]. Gerson, sempre hilário, às vezes saia da condição de repórter para atuar como protagonista dos casos mais inusitados. Como no dia em que Nice acordou de madrugada, assustada, crente que se tratava de suicídio, ao ver o marido com parte do corpo para fora da janela do apartamento onde moravam na Bonocô.

"Meu amor, não vá assim. Não se jogue, por favor. Temos dois filhos pra criar", clamou apavorada. "Tá doida, mulher? Trata de me ajudar, a janela está despencando, tá pesado demais, não vou agüentar". Resolvido o problema, veja só que justificativa.

Insone , Gerson tinha levantado da cama para respirar um pouco. Ver o céu, as estrelas. Espairar na janela. Só não contava ser traído pela estrutura de alumínio que a aquela altura precisava mesmo ser trocada. Coisas de Gerson. Não sendo trágico, a gente ria um bocado.

O bonde da revisão também era integrado por Rita Conrado, Josélia Ribeiro, Rê de Sá, as Fátimas, Cristiane, Marilena Neco, Laura Angelim, Cora, Raimundo Alves, Neusinha, João Saldanha, Egídio, Arlete, Francina, Sara Barnuevo, Márcia Gomes e Marlene Lopes. Lembro também de Iloma, que ficava na fotomontagem, digitalizando as laudas, uma salinha ao lado da revisão, mais ou menos onde fica o Transporte e o DP hoje em dia. De Pérola e Calixto junto às barulhentas máquinas de escrever da Redação. E de Nelido, o chefe, com régua, lápis e cola montando páginas na revisão. [Se nesse momento esqueço de alguém, por favor, me perdoem a memória rarefeita.]

O piso da redação era coberto por carpete marrom e eu gostava de catar os alfinetes que ficavam perdidos debaixo das mesas dos repórteres. Ajudava a passar o tempo nos dias em que minha mãe passava do horário e eu ali chegava, ansiosa, para levá-la para casa. Na condição de filha única [minha irmã Safira ainda não tinha nascido], sempre reclamava porque ela, a minha mãe, nunca saia no horário certa. Hoje peço desculpas e compreendo.

Anos passaram, virei "gente" e "fiquei me achando", como costuma dizer Marlen em alto e bom tom todo dia na redação. Em janeiro de 2004, ainda na faculdade, vim parar na redação de A Tarde, mais especificamente para um estágio, no turno noturno, no A Tarde On Line. Horário comum ao de Gerson, que junto com Pérola e Luis fechavam Polícia. Confesso que fui amplamente paparicada por esse trio. Um carinho herdado, devo reconhecer, mas que me fez gostar ainda mais da profissão.

Pois bem. Não foi para chegar a essa conclusão banal que me estendi até aqui. É que nunca vou esquecer da satisfação de Gerson no dia em que pela primeira e última vez assinamos uma matéria juntos.

Um factual rasinho, digno de quem está há dois meses na redação, sobre os pedestres que tinham dificuldade de atravessar na rua Marcos Freire por falta de sinaleira. Não foi manchete tampouco concorreu ao Prêmio Esso. Apenas o suficiente para, no dia seguinte, Gerson aparecer com a página em punho acompanhado de largo sorriso no rosto. "Veja como é a vida, carreguei essa menina no colo", disse, todo prosa, a todos que estavam na redação. Não satisfeito, recortou a matéria e guardou na agenda.

Depois de algum tempo, os problemas de saúde o afastaram da redação. Mesmo longe, vez ou outra, ligava para mim para "dizer que estava olho na minha produção" e assim riamos um bocado.

Hoje minha casa está em silêncio. Estamos todos em oração. Diante da dor, resta-nos o conforto de que nosso amigo Gerson foi morar num lugar melhor.

4 de novembro de 2007

R$ 2

Ontem, na Praia do Flamengo.