25 de dezembro de 2005

Para os crescidos

Natal de gente grande não tem o mesmo sabor de natal de guri. Não que um seja melhor que o outro. Não, não é isso... é que os dois têm sabores diferentes, ao pé da letra mesmo - ainda mais quando se faz dieta com dr. Fernando Hoisel.

Digo isso porque já não há mais espaço para tanta comoção. Já não é preciso passar o dia, a semana, o mês, ansiosa, apreensiva, contando os minutos para saber se Papai Noel passou na chaminé [lá em casa não tem uma, nunca teve, mas fui daquelas crianças convictas de que o bom velhinho descia por lá com bicicleta, bonecas e tudo mais].

Já não tem mais graça roubar doce na cozinha antes dos primos chegarem para a ceia. Ou então fazer um furinho bem discreto [discretíssimo, coisa de profissional] nas caixinhas bem bonitas que estão debaixo da árvore só para saber do que se trata cada conteúdo secreto. Nem muito menos fazer cara feia quando o tio nada-querido entra na sala com aquele presente nada-sua-cara e ainda pede para você abrir na frente de todos [o que te obriga a retribuir com gentilezas, afinal cada gesto de ingratidão é piamente censurado na noite do nascimento de Jesus. E ainda há quem diga que Ele nem nasceu nesse dia... mas vamos deixar essa polêmica convenção pra depois].

Tais atitudes, quando exercidas na idade um tanto avançada, são taxadas [no mínimo] de "atitudes sem noção". Olha lá, desse tamanho, comendo escondido antes de todo mundo, diria um. Deixe de ser mal educada, você não tem idade para birra, diria mamãe. Cê é otária mesmo, ainda me chama de criança, diria Matusqueta. Filha, pior é na guerra, brincaria papai. Ele veio de longe, só quis te agradar, ponderaria vovó. Tenho certeza que seria assim caso assumisse gracejos infantis em pleno 21 anos [que já são quase 22].

Mas é claro que a perda dessa atmosfera infantil [e pueril], resulta em ganhos um tanto proveitosos. Por mais que Papai Noel não desça pela bendita chaminé, mamãe já não fica tão triste se o natal for comemorado com a galera num pico inédito. Vovó também não liga se não quiser participar do amigo secreto ou se comparecer para socializar com a família apenas minutos antes da ceia ser servida.

Se ganha também o prazer de presentear pessoas queridas. Digo, presentear com o próprio dinheiro, ação que significa se mobilizar espontaneamente por alguém [e que mobilização! encarar o virote do Iguatemi é mais que prova de amor].

Entre prós e contras, acho que é bem nessas horas que se sente o famoso peso da idade. Justamente quando o interno pede uma malcriação e, infelizmente, já não é mais apropriado. Pode até fazer, mas é muito feio.

Aquela atitude que um dia foi um tanto verdadeira e, apesar de ser nada inocente, era vista com bons olhos [afinal, dificilmente crianças são levadas a sério] passa a ser ridicularia. E aquele tantão de sentimentos [inclusive, a fé e a esperança] que em alguns casos parecem ter sumido, na verdade, continuam a habitar nossos corações. Meio transformados, claro. Diria até mesmo meio desolados. Ou corrompidos, quem sabe. De qualquer forma, só para não perder o hábito, eu te desejo Feliz Natal!

Um comentário:

Anônimo disse...

Potrinha, obrigada por hoje!!! :) Um beijão, Martinha.