28 de julho de 2007

Palavra de honra

"Pedra, paralelepípedo e preconceito
eu passo por cima"
[Carlinhos Brown]

De novo...


Oxi, voltou debaixo de chuva. Agora de noite.

Mensageiro


Na minha janela, assim que acordei. Ficou horas paradinha exatamente nesse lugar. Custou a voar. Pensei até que trazia uma mensagem amarrada nos pés.

Bolívia

"A un pueblo que marcha hacia su liberación con dignidad y soberania nada puede deternelo. Igualdad para todos los bolivianos. Eso es o que buscamos", Evo Morales.

"As mulheres são feiticeiras"
[Cau Gomez]

27 de julho de 2007

Tititi

Caetano Veloso estava a dançar ontem à noite no Baile Esquema Novo. De jaqueta jeans, é claro.

Sexta-feira



26 de julho de 2007

FESTA!








Nas pick-ups
As anfitriãs do baile DJ Schneider - em despedida rumo à Bélgica
DJ Novelli - estreando
Mais:
ElCabong, DJ residente da festa Nave
Marcelo Callado - baterista de Caetano na turnê Cê
Ricardo Dias Gomes - baixista e tecladista de Caetano na turnê Cê
Djgo - diretamente do Canadá com seu set nervoso
Saiba mais aqui

23 de julho de 2007

Portifólio

Edição de domingo do jornal O Globo

Favela de faz de contas

Deu no Blue Bus (e na Folha):
Globo vai construir uma favela de 3 milhões para proxima novela das 8

A construção de uma favela cenográfica no Projac vai consumir R$ 3 milhões, diz nota do Daniel Castro hoje na Folha. Será o cenário mais caro de 'Duas Caras', próxima novela das 8 da Globo, que estreia em outubro. O custo é alto, diz a nota, não apenas por conta do tamanho e da importância da favela na trama, "mas também porque será a primeira novela em alta definição (HDTV), o que exige acabamento primoroso e amplitude horizontal dos cenários e locações".
Digo eu:
Existem mais de 16 mil favelas no Brasil [IBGE]. Só pode ser brincadeira uma coisa dessas.

22 de julho de 2007

Domingo

"Faço promessas malucas
tão curtas quanto um sonho bom"
[Cazuza]

A pérola da TV Bahia

Pegando uma ponga no comentário feito por Seo Ari nestante aqui no blog, se depender da cobertura da Rede Bahia [tv, impresso e rádio] ACM desbanca fácil irmã Dulce no posto de Anjo Bom da Bahia. Parcialidade mais que esperada, não é mesmo? Mas de tudo o que eu vi na tv, na internet e nos jornais impressos senti falta de duas coisas: A imagem e O texto. É, porque foram muitas imagens, transmissão ao vivo do sepultamento, muitos offs, várias galerias de foto na internet, várias e várias páginas de jornal e... ... ... nada excepcional, nada comovente, nada digno de Prêmio Esso. Faltou Pedro Bial e Luciano Andrade no time de cobertura, talvez tenha sido isso.

E aquele VT que foi ao ar no Bahia Meio Dia assim que foi feito o anúncio da morte? Aquele que faz a trajetória de vida do senador desde o dia em que veio ao mundo na rua da Independência em Nazaré. O Off que fala sobre a fase acadêmica da Faculdade de Medicina é digno de destaque:

"Tirou notas razoáveis em outras disciplinas, mas sempre dez em política (!)"
Genial, não é mesmo?

A notícia como veio

Quando a morte do senador Antonio Carlos Magalhães foi anunciada às 11h40 da manhã do dia 20 de julho, é certo que todos os jornalistas estavam há dias com o texto pronto no gatilho aguardando apenas a constatação oficial para disparar a manchete mais aguardada dos últimos tempos. O "Globo On Line" foi o primeiro a dar a morte do senador. Às 2 da madrugada desse dia, uma matéria foi publicada, mas como a assessoria parlamentar em Brasília e a família não se pronunciaram sobre o episódio, a matéria acabou saindo do ar logo no início da manhã. No lugar, apareceu uma errata que dizia: Estado de saúde do senador ACM é crítico. Mentira, já estava morto, mas quem garantia? Ou melhor, quem bancaria? Na condição de jornalista, não dá pra sustentar uma informação desse tipo sem o suporte de uma fonte confiável. Mesmo que a revelação seja em off é preciso ter garantia. O "Portal Terra" e o "JB On Line" também anunciaram a morte de ACM ainda de madrugada logo depois de "O Globo On Line" e, por efeito dominó, tiraram a página do ar. Jornalismo on line é assim: um dá, todos dão. Um tira, todos tiram e assim segue até que alguém confirme. Durante todo tempo em que ACM esteve internado no Incor em São Paulo não houve sossego na redação onde trabalho e, devido a relevância do assunto, tenho certeza que ocorreu o mesmo em todas as redações do país. Todos de prontidão. Do blogueiro por hobby ao fechador da primeira página da Folha de S. Paulo, ninguém deixaria escapar tal notícia. Foram 37 dias de apreensão. Nesse tempo ACM morreu e ressuscitou diversas vezes nas mãos dos jornalistas. A cada suspeita de morte, só quem se pronunciava era Neto. Era ele quem atendia o celular a qualquer hora do dia para falar com os repórteres sobre o estado de saúde do avô. A pedido do enfermo, não saia nada da assessoria do Incor. A orientação foi seguida à risca, ninguém ousou contrariar o senador. Nenhum médico, enfermeira, porteiro, um primo distante, nem mesmo a faxineira da UTI. Nenhuma palavra, só Neto falava. Na manhã do dia 20, o celular do deputado pela primeira vez foi desligado. Meses atrás, ele havia dito que não seria o porta-voz da morte do avô. O silêncio de ACM Neto era o indício mais convincente de que tinha chegado o dia. Por volta das 10 da manhã, Noblat se cobriu com a imprecisão do jornalismo on line: Aparelhos mantém ACM vivo. É provável que a morte seja anunciada em instantes. Passa meia hora, uma hora e nada. A reportagem do Correio da Bahia é convocada em peso a comparecer na redação. Nem quem estava de férias escapou. De fato, era o dia. Estariam esperando dar 12h para casar com a abertura do Bahia Meio Dia, cogitou-se. A prioridade era a TV Bahia, imaginava-se. E foi quase isso. Todos de olho na tv, aguardando a vinheta do plantão da Globo, aquela que faz o coração de qualquer telespectador disparar. Mas nada de vinheta, o anúncio oficial foi feito 20 minutos antes de Casemiro entrar no ar.

O dia seguinte

A pessoa vai dormir dez pras seis da manhã cheia de álcool etílico transbordando nas veias. O estado não é over, mas bem que é dose. Joga o vestido em qualquer lugar do quarto, as sadálias ficaram pra trás na sala mesmo. Passa pela frente do espelho e na imagem refletida está escrito: a noite foi divertida. Amanhã, ou melhor, ainda hoje cato tudo, promete a si mesma na tentativa de contrariar a preguiça. A cama de tão desejada parece uma miragem. Basta um passo para alcançar os lençóis limpinhos. Melhor correr, antes que tudo se desfaça. Travesseiro de Marcela para acalmar os sentidos. Cortina fechada, ambiente fresquinho sem ajuda do ar condicionado muito menos ventilador. Mensageiro do vento discreto na janela, ninho perfeito de meter inveja em qualquer passarinho. Sono dos justos. Quer dizer, não é pra tanto. É só um cochilo porque às 10 é hora de ir trabalhar. É domingo, sim, sabemos. Mas tem gente que trabalha domingo. Médico, cozinheiro de restaurante, garçom, agente da SET, guichê de cinema, mocinho que aluga filmes, juiz de futebol, bombeiro, polícia, salva-vidas, carinha do posto de gasolina, caixa de supermercado, motorista de ônibus, taxista, coveiro, piloto de avião, moleque de sinaleira, Faustão... viu aí, não é tão solitário ser jornalista. Pois bem, as horas são contadas e o sono, pelo tamanho da cachaça, promete... promete ser um inferno. Antes mesmo de bater a ressaca, o imprevisível: um martelo desgovernado. Exatamente às 7h30 da manhã de domingo. A pessoa registra, não acredita, põe o travesseiro no ouvido e finge que não é com ela. Deve ser uma parte turbulenta do sonho, despista. Passam três segundos, a realidade volta a tona com uma nova informação: são dois martelos. Um faz toc, o outro faz tac-tac. Juntos eles fazem toc, tac-tac! toc, tac-tac! toc, tac-tac! toc, tac-tac! toc, tac-tac! toc, tac-tac! toc, tac-tac! toc, tac-tac! toc, tac-tac! Assim mesmo sem parar, um eco ininterrupto no juizo. A pessoa levanta no mais perfeito estilo Taz Mania. Rodopia em fúria pela casa em busca de silêncio, cogita até se trancar no banheiro, mas está tudo impregnado. A essa altura sono e nervos já foram para o espaço. Raciocínio ativado, chegou o vizinho novo para ocupar o apartamente debaixo que estava fechado.

21 de julho de 2007

O velório






Hoje no Palácio da Aclamação



A charge

Publicada na edição deste sábado do jornal A TARDE

20 de julho de 2007

Nota da autora:

Gostaria de esclarecer que o laço de fita preto ao lado foi colocado em luto às vítimas do airbus A320 da TAM. Ao contrário do que alguns imaginaram, nada tem a ver com a morte do senador Antonio Carlos Magalhães e antes que alguém se antecipe mais uma vez, sobre esse episódio, faço minhas as palavras de Ari Coelho: "Meus princípios humanitários impedem que eu me regozije pela morte de quem quer que seja".

Imperdível!!!

Charge de Cau Gomez na edição de sábado do jornal A Tarde. Não deixem de conferir.

Comoção carlista


Por volta das 17h, na porta do Palácio da Aclamação, onde será realizado o velório do do senador Antonio Carlos Magalhães, antes mesmo de o corpo sair de São Paulo a caminho de Salvador.

Pra todo mundo ver

Equipe da Rede Bahia, meio-dia no Campo Santo, produzindo a cobertura do enterro com direito a imagens aéreas capturadas por uma grua. Digno de cinema, é mole?

Ser repórter...

... é ter a sagrada folga de sábado suspensa para ficar de plantão na redação
... é trabalhar no domingão (vejam bem, são 13 dias initerruptos na redação)
... é trabalhar das 8h às 20h sem direito a time off para lanchinhos
... é ter a oportunidade de conhecer o coveiro que vai por a mão na pá
... é ir ao Campo Santo antes de todo mundo só para conhecer o metro quadradro mais visado da Bahia nas próximas 48h

19 de julho de 2007

É bem aqui ó!

Hoje de manhã em Valéria

15 de julho de 2007

Domingo

"Existe algo de circular em nossas vidas, e, de repente, nos vemos retornando àquele lugar ao qual juramos nunca mais voltar". Palavras de Juli em Le notti di cabiria me fez lembrar Subúrbio de Chico. "Perdido em ti eu ando em roda".

ESOTÉRICO
(Gilberto Gil)
Não adianta nem me abandonar
Porque mistério sempre há de pintar por aí
Pessoas até muito mais vão lhe amar
Até muito mais difíceis que eu pra você
Que eu, que dois, que dez, que dez milhões
Todos iguais
Até que nem tanto esotérico assim
Se eu sou algo incompreensível
Meu Deus é mais
Mistério sempre há de pintar por aí
Não adianta nem me abandonar
Nem ficar tão apaixonada
Que nada, que não sabe nada
Que morre afogada por mim

Mistério

Já fui apegada aos meus sentimentos. Apego no sentido mais literal da palavra. Fui daquelas que diante de uma ligação afeituosa, principalmente quando brotava afeição gratuita, debruçava-me em dedicação banda larga ao ser amado. Vale o mesmo para as causas amadas. A idéia de rompimento me causava pânico. Águas passaram, pontes ruíram. Onde havia amor, passado rancor, brotou vazio e do pedaço de terra seca, com um pouco de água, germinou semente. Fato é: o fim de um relacionamento é tão misterioso quanto o início. O coração tem lá suas razões, banais ou não, reais ou ilusórias. Pra mim sempre foi necessário explicações. Sempre quis entender os meus amores do fim ao princípio. Exatamente nessa ordem porque de início, mesmo quando não vinham flores, sempre sobrava magia capaz de dispensar qualquer teoria. Fui apegada e, paradoxalmente, ainda sou por mais que me esforce em negações em cada linha deste post. Só em tempos de ressentimento consigo cultivar o desdém. O que se é por natureza não muda. Mas só por teimosia repito: fui. E por terapia digo: hoje tenho apego a mim, à minha existência. Não por súbito ataque do ego, mas por estar convicta de que ninguém mais no mundo é capaz de cuidar com afinco e dedicação da nossa alma a não ser nós mesmos. Fora isso, antes que alguém se assuste, resta aqui, dentro de mim, uma fresta no muro das emoções, onde a qualquer momento uma nova paixão pode ser riscada por um rastro de luz... ... ... "mistério sempre há de pintar por aí".

Resta 1

Resquícios de sexta à noite

11 de julho de 2007

Cinema na Bahia tem futuro?

III Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, no TCA. Começou segunda, termina sábado, mas só passei por lá hoje. Não por falta de vontade. Pelo contrário. Questão é que o trampo insano deixa o tempo escasso. Estive na mesa de Imagem e Mídia Digital, minha área de interesse. Acho que tô meio saturada [ou seria surtada?], não vi nada realmente interessante. Apenas uma queda de braço insossa sobre película ou digital. O que importa? Câmera na mão? Não. Com o barateamento das parafernálias tecnológicas, qualquer um se torna um videomaker. Quero saber por onde andam as boas histórias, independente do suporte. Essas me parecem cada dia mais raras. Idéias inovadoras, argumento bem pensado, projeto convincente, formato sedutor, algo que nem de longe me lembre uma 51. Queria mesmo ter visto ontem o barraco de Setaro e Navarro sobre cinema baiano. Às 20h, lá no Instituto Cerantes, na Ladeira da Barra, rolou um bate-papo com Guillermo Arriarga, o mexicano roteirista de Babel, 21 Gramas e Amores Brutos [geniais, diga-se de passagem]. Xi, mas a coisa não foi bem planejada. Escolheram uma sala pequena para um público que correspondia ao dobro das cadeiras disponíveis. Fila pra entrar, e, lá dentro, restou apenas o chão para sentar. Abortei. Quer dizer, abortamos. Melhor uma cerveja no bar de três letras e dois donos. Cerveja para refrescar quatro goelas ávidas por mudança. Em breve vamos viajar. Temos destino, roteiro e uma câmera na mão. Idéias a milhão. Resta a história, essa ainda está por contar. Leia um pouco sobre o seminário no Memorioso On Line, de Vítor Rocha e Ricardo Sangiovanni.

P.s.: A propósito, Melina fez um curta. Sempre às quartas. Rodou mês passado lá em Santa Maria, no RS. Tem blog com sinopse, repercussão e cena dos bastidores, veja aqui. Aguardo com ansiedade, não vejo a hora de assistir a história que brotou dessa guria de idéias inquietas. Quer dizer, mais uma história. São tantas. Aqui na Bahia, rabiscamos várias. Colocamos um palhaço no centro do palco. Não teve vida, mas está por aí, preso em alguma folha de papel.

9 de julho de 2007

Som, pure quality

MAQUINADO :: trabalho-solo do guitarrista do Nação Zumbi, Lúcio Maia. Com participação de Buia, do Z'África Brasil, Chiquinho Moreira, do Mombojó, Siba, ex-Mestre Ambrósio, além de Jorge Du Peixe, Dengue e Toca Ogam.

Maia e parceiros professam preces em códigos binários, em um culto à tecnologia. Este culto não deixa de ter sua parcela crítica e brincalhona, que se evidencia nas viagens sonoras dignas de odisséias no espaço. Como bem diz, 'o maior amigo do homem só entende certo e errado, verdadeiro e falso, ligado e desligado'. O computador, e não o cão, é hoje alvo de devoção. Como já disse a Nação Zumbi, computadores fazem arte e artistas fazem dinheiro. Maquinado faz pensar e faz viajar [Flávia Guerra, para O Estadão].

Ficou curioso?
Leia mais

Autores amam amar

Nietzsche diz que os amantes amam mais o amor do que a pessoa amada. Coetzee, Nadine Gordimer, Amós Oz, Alan Pauls, Will Self e, eu arriscaria, todos os autores presentes na Flip, colonizam, descolonizam, ironizam, se perdem para dificilmente se achar em labirintos de parênteses, impossibilidades, dores e encantamentos para voltarem para o assunto único: o amor.Três dias de Flip, umas dez mesas e uma conclusão entre óbvia e misteriosa: todos eles amam amar. Mas o homenageado da festa já dizia: "Só os profetas enxergam o óbvio".Alan Pauls me diz que "todo relacionamento já contém em si mesmo a futura separação" e que ela seria, na verdade, a "obra magistral de um relacionamento". E que "é preciso que haja zonas de sombra" para que a transparência que, segundo ele, é o monstro do amor, não o acabe assassinando.Nadine Gordimer diz "que os amantes enxergam com o terceiro olho coisas que só eles vêem na órbita do olho do amado". Will Self, o muso cínico da Flip, diz que "o homem amado, com quem a mulher divide as colheres da gaveta, é sempre ele o perverso, aquele encarregado de destruí-la".Fernando Pessoa (que não está na Flip) já sabia que todas as cartas de amor são ridículas. Alan Pauls, categórico, diz que "o amante é aquele que não tem vergonha de ser ridículo". E Nelson Rodrigues, gênio trágico, já sabia que "só os imbecis têm medo do ridículo". Amar, enfim, é absurdo. É entregar-se abertamente à dor e à deselegância. Mas quem sabe também seja o elixir que faltava para a maldição contemporânea da atitude "blasé" que, em nome de não cair no ridículo, é capaz até de não amar. [Noemi Jaffeenviada, publicado na Folha de S. Paulo nesta segunda-feira]

8 de julho de 2007

AMAR
Carlos Drummond de Andrade

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor e na secura nossa
amar a água implícita, e o objeto tácito, e a sede infinita.


A vocês, um bom domingo. Que seja com amor, caso contrário, desista. Quer dizer, saia da inércia, modifique. A imagem peguei daqui

7 de julho de 2007

Labiríntico

Ari Coelho, again
Pesquei só um pedacinho, para ler completo clique aqui


Têm tantas pessoas no meio do meu caminho
E, em cada pessoa, tantos sentimentos
Têm tantos sentimentos no meio do meu caminho
E, em cada sentimento, tantas emoções
Têm tantas emoções no meio do meu caminho
E em cada emoção, tantas reações
Têm tantas reações no meio do meu caminho
E, em cada reação, tantas conseqüências
Têm tantas conseqüências no meio do meu caminho
E, em cada conseqüência, tantos novos caminhos
Têm tantos novos caminhos no meio do meu caminho
E, em cada novo caminho, tantas velhas certezas
Têm tantas velhas certezas no meio do meu caminho
E, em cada velha certeza, um outro novo caminho
sozinhosozinhosozinhosozinhosozinhosozinho
sozinhosozinhosozinhosozinhosozinhosozinho
sozinhosozinhosozinhosozinhosozinhosozinho

Medo da vagina

No Rio, "boyzinhos" bem nascidos espancam uma mulher, empregada doméstica e alegam terem pensado que ela era prostituta. Ainda no Rio, bonitões Globais de terceira categoria se em volvem com dois travestis e uma prostituta, dispensam os homens, e terminam agredindo a mulher e ainda roubando a sua bolsa.Em São Paulo, jovem é preso após atear fogo em prostituta.
Ainda em São Paulo, se não me engano, estudantes de uma escola espancam a servente.

Aqui, em Salvador, jovens do sexo masculino curtem uma brincadeirinha de atirar em mulheres com uma arma de um jogo chamado paintball que, além de machucar, assusta por derramar uma tinta vermelha que se assemelha a sangue. Todos os agressores, jovens e pertencentes à classe média.

Como explicar esse fenômeno? Que tipo de jovem vem sendo formado a partir dos condomínios fechados e dos shopping centers? Quem são esses covardes homens de amanhã?
Sem dúvida, a orientação familiar é fundamental na formação do caráter do indivíduo. É com o exemplo, mais do que com simples palavras, que formamos o caráter dos nossos filhos, que passamos para eles as noções de certo e errado, de justo e injusto, de digno ou indigno, ou seja, as noções de uma convivência ética com o outro.
No texto de Contardo Calligari, transcrito aqui no blog, ele fala na teoria dos "clientes especiais", e reforça-a com a defesa do pai de um dos rapazes que espancaram a doméstica, no Rio: "Prender, botar preso junto com outros bandidos? Essas pessoas que têm estudo, que têm caráter, junto com uns caras desses?"
É assim que tem sido criada uma boa parte dos nossos jovens da classe media. São "clientes especiais" da vida. Moram bem, freqüentam boas escolas e bons ambientes, recebem boas mesadas, ganham carros zero quando passam no vestibular (geralmente de uma faculdadezinha qualquer), vivem nos shoppings, azarando, zoando e adquirindo os mais novos lançamentos de produtos eletroeletrônicos.
Enquanto isso, vai sendo formada uma legião de babacas de griffes caras, Ipods, MP3 e celulares de última geração. Uns cretinos, uns pobres coitados, medrosos, covardes, intolerantes, preconceituosos e perversos.
Mas, uma coisa, também, chama a atenção nesses casos mais recentes: o fato de as vítimas serem sempre mulheres. Por que será?
Em primeiro lugar, pela covardia. As mulheres são mais frágeis, assustam-se com mais facilidade e, via de regra, demoram mais a reagir. Mas, creio que a verdadeira razão é, simplesmente, medo de mulher, ou o que alguns chamam de "medo da vagina".
"...Ela (a vagina) angustia os homens
por ser o lugar de uma castração simbólica.
Na vagina, "não há" alguma coisa.
A vagina põe os homens diretamente diante de seu oposto.
Fala-se muito em inveja do pênis para as mulheres. Que nada.
Hoje, com a liberdade da mulher, o grande trauma é o "medo da vagina".
Os homens têm medo de enfrentar aquela entrada para o ventre,
aquela porta de caverna onde poderíamos nos perder."
Monica Azevedo é jornalista

"...Embora na mulher possa existir algum temor pelo pênis do homem,
nada se compara ao medo que os homens sentem pela vagina.
É um perigo ameaçador
porque não é visível e porque suas propriedades são estranhas.
A vagina, insaciável, que devora o desejo masculino,
libera o sangue menstrual,
acolhe o membro do homem e expulsa o feto ensangüentado."
Regina Navarro Lins, psicanalista e sexóloga

Acho que é disso que padece parte dessa geração: "medo da vagina", medo de mulher. Afinal, que outra explicação poderia haver para essa agressão despropositada?

Eles precisam mostrar a papai que são homenzinhos, que são os machinhos do jeitinho do papai. Só que papai, com eles, bravateia as suas aventuras sexuais, que já comeu umas tantas, que não perdoa uma gostosa, que dá três ou quatro, sem tirar de dentro, que mulher é tudo cachorra e essas pérolas que alguns especimes da raça masculina costumam cultivar.

Acontece que, papai também tem medo de mulher, papai também tem "medo da vagina", mas enfrenta esse medo e, desmerecendo a mulher, consegue ter uma atuação sexual satisfatória (para ele, é claro).

Agora, os filhinhos, não. São mais frageizinhos, nessa vidinha dos seus condomínios fechados e dos seus encantadores shopping centers. Em casa, a Internet mostra as "vagabundas" em série. Todas lá, exibindo o objeto do seu terror, escancarando a tenebrosa gruta, origem dos seus mais terríveis pesadelos.

Mas ele precisa ser igual a papai, precisa mostrar que também é macho e, já que não o consegue pelas vias, digamos normais, das relações sexuais, eles batem, xingam e humilham as mulheres.
Ora, ora... lost boys... nem tudo está perdido. Se o medo de mulher é tanto, se o "medo da vagina" lhe paralisa... muda rapaz.

Quem sabe com um pênis, igual ao do papai, você não será mais feliz?...

Aliás, acho mesmo que é disso que vocês estão precisando. É isso que vocês estão buscando.
Nada contra. Só não vale é ficar batendo em mulher, porque não tem coragem de encarar um macho. E isso, em vários sentidos.

3 de julho de 2007

Inside

You don’t know me
Bet you’ll never get to know me
You don’t know me at all
Feel so lonely
The world is spinning round slowly
There’s nothing you can show me
From behind the wall
Show me from behind the wall
Show me from behind the wall
Show me from behind the wall
(Caetano Veloso)

Relação [simples assim]

A liberdade e o compromisso
podem ser conciliados,
se levados numa boa,
com sinceridade e compreensão

2 de julho de 2007

Dois de Julho, independência da Bahia























Hoje, cortejo cívico. Da Lapinha à Praça Municipal.





Pegada violenta - PARTE XIII

Atualizado às 23h20. Dessa vez, o fim de semana vem condensado.

Domingo de noite. Fui à praia contemplar o nascer da lua. Lua cheia, magnífica. Potente e amarelada. Enorme! No sábado achei que estava de tamanho tão gigante como nunca tinha visto antes. Lua cheia me deixa meio baratinada, bate onda, sei lá. Aguça meus sentidos, modifica a percepção. Doidura, como diria um amigo. Levei Bóris comigo. Esse final de semana ele tá de lord, praia duas vezes ao dia. No carro ele vai quietinho, espojado no banco do fundo, curtindo o som. Mano Chao na ida. Ben Harper na volta. Soltei na praia pela primeira vez. Correu bastante, lambeu minhas amigas, espanou areia com rabo e não gostou nem um pouco de sentir a presença de um pitbul. Bóris ainda não sabe correr direito, rebola a bunda meio desengonçado, é engraçado. O rabo dele rotaciona em elipse, Clarissa que notou. Ele nunca tinha ido à casa de Mônica, lá tem outro cachorro: Bob. Bob Marley, um coker preto misturado com basset, 95 anos. Bob ficou invocado e, naturalmente, na condição de dono da casa, rosnou pra Bóris. Decidi até ir embora. Mas graças à paixão de Mônica por cachorros - mil vezes superior à minha - Bóris conheceu a parte de cima da casa. Ameaçou umas estripulias no sofá, deu um pulo e despencou todo torto de cara no chão, mas encontramos um jeito de deixá-lo beeeem calminho sob efeito relaxante. O problema foi na hora de descer. Ele empacou no topo da escada, não queria descer por nada. Medo de altura nítido na cara. Foram longos minutos até convencê-lo. Fiquei irritada, Mônica, pacientemente, após várias tentativas em vão, conseguiu arrastá-lo de ré. Foi assim que ele desceu. Bóris está na fase parece mais não é. A última vez que foi ao veterinário, há pouco menos de um mês, pesava 27kg. Como todo labrador, ele é todo grande: patas, dorsal, rabo, cabeça. E a língua! A língua é enorme, haja baba! Parece adulto, por causa do porte, mas não passa de um bebê-cão de seis meses. Tem que ter muito peito pra aguentar a brincadeira. Qualquer movimento afobado gera um ematoma roxo. E, como toda criança, precisa de limites e bons exemplos para não se tornar um adulto insuportável. Ninguém tem que aturar falta de educação alheia.

Domingo de manhã. Bóris foi à praia, eu fui trabalhar. Vejam vocês como a vida é engraçada. Cachorro com vida de gente, eu com vida de cão. Sim, porque só o cão pra se enfiar em pleno domingo de sol numa redação gelada. No trabaho, ouvi algumas piadinhas sobre os ematomas. Papai contou que ele nadou horrores na praia. Se esbaldou no mar, pulou ondas, mas preferiu repousar numa poça. Tomou água de coco, correu na areia e voltou pra casa.

Sábado de noite. Grande dia. A familía chegou de viagem. Quando Bóris sentiu a cheiro, correu feito doido. Tamanha alegria, pensei que o cachorro ia se mijar. Deitou nos pés de papai com a barriga e patas pra cima, de boca aberta, língua pra fora, esperando carinho. Se esfregou nas pernas de minha irmã, pulou no colo de minha mãe, todos cheios de carinho pro cachorro. Nem tinham visto o estrago no meu corpo. "Meu Deus! Você caiu, filha?", disse mamãe abismada. - Caí? Ficaí... seu cachorro quase me mata. "O quê? Isso foi Bóris?", engrossou papai - - Tô dizendo... agora vão fazer acariação pra saber se tô querendo incrimar o cachorro. Suspendi o moleton até a coxa e antes que eu falasse qualquer coisa ... "Meu Deus!", dispararam os três simultâneamente com cara de assombro. "Por que você deixou???". - Ora, meu pai. Não vem com essa, só se eu desse com cano de pvc na cara dele. "Eu te denunciava para a Sociedade Protetora dos Animais", retrucou minha irmã atrevida em versão aspirante a Brigitte Bardot. - Então vê se educa essa merda de seu cachorro, guria! Discussão familiar a parte, Bóris agora é só alegria. Realmente, Carminha. Cê tava certa, dei mole em não ter feito o vídeo.

Sábado de tarde. Acordei pra lá do almoço, de ressaca. Moral e física. Eu disse: a sexta foi canina. E incrivelmente de madrugada piorou mais ainda. Nada de leite derramado, um banho completo pra animar. Ducha de 40min, aquela que faz os ambientalistas se contorcer, mais um prato de feijão pra dar sustância ao dia e como promessa é dívida fomos passear. Ê satisfação! Pulo pra lá, pulo pra cá, lá vai Bóris farejando todo o caminho. Quase não anda de cabeça erguida. É com a cara enfiada no chão o tempo todo. Fico atenta para não meter a boca onde não deve, mas volta e meia ele abocanha alguma porcaria. Cansei de enfiar a mão na garganta, machuca muito. A minha pele, é claro. Agora bato o pé no chão com força, olho feio, falo alto "não!" e ele cospe fora. O vizinho da rua de cima, dono de uma quitanda, se apaixonou por Bóris. Ele tem dois cachorros esquisitíssimos, uma mistura de chowchow com poodle, imagine... Talvez eles fiquem amigos.

Sexta-feira de noite. Tive um dia de cão e quando cheguei em casa, exausta, só coloquei a comida do cachorro. Troquei a água também, é claro. Fiz um cafunezinho básico e só. Nada de passeio. Sem condição. Amanhã vem a recompensa, estarei de folga, vai dar pra brincar bastante.

Pegada violenta - PARTE XII

Quinta-feira de tarde. O cachorro não estava tão calmo quanto ontem. O passeio foi longo e estressante. Bóris cismou em correr atrás de uns cachorros da rua. São três: Júnior, Piriguete e Fred. Todos vira-latas, moradores da rua, gordos e bem cuidados graças ao dono do bar da esquina, um senhor que os alimenta diariamente. A vasilha de água fica na calçada. De quebra, os três são considerados como xodós pelos freqüentadores mais cativos do bar. Deu trabalho para parar Bóris. Pensei que ia arrancar o pescoço. Ficou ofegante, sem ar por causa da pressão da coleira cada vez que dava um esticão, mas, mesmo assim, insistia em correr atrás dos cachorros e quando chegou em casa danou a morder. Apanhou com jornal e foi dormir lá fora sozinho, nada de ficar dentro de casa. Chega de falta de educação.