15 de novembro de 2006

Sem chão


Não vou mostrar corpos estendidos no chão como fez a tv e o jornal. Aquela imagem clichê não serve mais como informação. Ninguém liga pro que vê. Banalizou.

A morte ontem, em Castelo Branco [periferia de Salvador, onde o chão desfaz a cada pingo d'água], não estava debaixo da lona preta silenciosamente estendida pelos bombeiros. Por irônia [ou não!] do destino, a morte estava no rosto de quem sobreviveu. Pessoas que viram a vida por um fio e por pouco [mas por muito pouco mesmo] não viraram estatística. O que fez um sobreviver e o outro não, só Deus sabe. O barco, ou melhor, o barranco, era o mesmo.

É também apenas de conhecimento divido saber até quando aquele morro argiloso cheio de bananeira pode surportar a força da chuva, que, sem desafiar as leis da física, tudo arrasta ladeira abaixo. Verdade que uma vistoria técnica seguida de relocação dos imóveis determinaria o veredicto, mas como essas providências simples custam a acontecer, o jeito é se apegar com Deus.

Em nome do pai, da mãe e do filho que teve apenas 24 horas para saborear 365 dias de passagem pela Terra [sim, a criança havia completado o primeiro ano de vida na noite anterior], compartilho aqui a incerteza de quem ficou.

2 comentários:

melina disse...

Tássia!!!

Muito boa essa tua iniciativa. O olhar do menino já diz tudo e tem mais peso ao se saber oq se trata.
Foto e texto maravilhosos, agora esperamos que olhares como esse não voltem a existir. Que o municipio tome as providências necessárias para isso.

bjs

tássia disse...

Saudade de você, Mê :)