22 de maio de 2007

Go shopping, ô no!

Pronto, as portas do trambolho finalmente foram abertas. Agora não tem mais jeito. Está consolidado, ou melhor, inaugurado. Vou ter que engolir o shops novo mesmo a contra gosto. É, queridos, engolir. Não me vem outra palavra nesse momento. É engolir mesmo, enfiar goela abaixo com um suspiro só, que nem remédio amargo pra vê se desce rápido.

Porque aquilo ali não é uma construçãozinha qualquer, um brinquedinho estilo lego, desmontável. É grande feito a porra, sólido, imponente. Vai de uma ponta a outra, vejo de camarote da janela da redação e desde o dia que o primeiro tijolo foi colocado me incomoda muito aquele mega estabelecimento comercial.

Abriram pistas, viaduto foi erguido, mudaram rotas. Juraram melhorias. E o mais impressionante: o trânsito na avenida Tancredo Neves continua fatídico. Por tabela, a ACM, a Marcos Freire, a entrada do Stiep, a Magalhães Neto e as alamedas do Caminho das Árvores, aquelas que têm nomes de árvores. Uma merda, angustiante, irritante, sufocante. Engarrafa a qualquer hora, tanto faz ser 10 da noite ou até mesmo num belo dia de domingo. Trava tudo, é um saco, congestionamento no mais perfeito sentido da palavra. Não passa nada... Quer dizer, eu passo, todo dia pra ir e vir do trabalho. Meus nervos agradecem.

Ainda tem umas duas faculdades ali perto, um monte de prédio empresarial, mais umas duas ou três lojas de decoração, uma casa do comércio, uns três bancos, dois hospitais, dois restaurantes chiques, um jornal, e mais o que? Um shoppingzão, o Iguatemi. O primeiro de todos. Ah, tem também o Sumaré. Menor porte, tudo bem, mas não deixa de ser shopping. Pergunto: não tinha outro lugar pra construir essa merda não? Tinha que ser ali, logo ali, onde as coisas já não fluiam muito bem? Não podia ser lá pras bandas da Paralela não? "Não, não pode. Lá já vai ter outro", pelo menos foi o que me disseram.

Haja lamento dentro dos carros - motoristas descobriram uma forma rápida de fazer úlcera, enquanto os pedestres dentro dos ônibus seguem não menos irritados. Por falar nisso, outro dia, do alto do busú, em pleno trancamento, distraída na janela com ar de fim de expediente, vi um carinha apertando um baseado num corsa prata. Assim, de paletó e gravata, palm top largado no banco solitário do carona. Nada mais que uma válvula de escape, um passatempo em meio ao caos viário. Invejei a condição privilegiada daquele sujeito, não vou mentir. A mim me restou aumentar o volume do iPod. Não bate onda, mas funciona que é uma beleza, it makes you fly away.

Dizem que é lindo, super chique. Da porta dá pra perceber. Eu ainda não fui, não tive coragem. Vou acabar indo, eu sei. Mas agora, logo assim de cara, não. Não quero deixar meu dinheiro ali, sim, porque shopping nada mais é que um lugar feito especialemente pra se apropriar do dinheiro dos outros, fazer o cara gastar, consumir. Você entra, dá duas voltinhas, e se não for esperto, quando cair na real, já se foi uma quantidade considerável de dinheiro direto pro bolso do lojista. É promoção, liqüidação: enganação - salvo as situações cujos gastos correspondem a necessidades reais. Fora isso, é sedução.

Cá com meus botões, matuto mais uma vez: Salvador, capital do desemprego, segundo o IBGE, apenas 10% da população tem renda mensal fixa acima de R$ 1,6 mil e o povo todo assim... delirando com o shopping novo, ávidos para gastar o que nem têm, consumir, babar, pré-datar na mais nova maravilha da cidade. Credo, que deslumbramento idiota! Quando passei na porta, na volta para casa, e vi aquele mundaréu de gente e carro seguindo feito comboio de peregrinos em dia de romaria, tive vontade de abrir o vidro do carro e soltar um berro: Vai, gente! Vai pra casa, pensar na vida! - Ok, ok, ok. Calma, não fiz isso não, já passou o surto nervoso e vou até assumir baixinho: sou uma ranzinza.

Na academia, o assunto do dia era o tal. A recepcionista se perdeu no engarrafamento. A aula de power jump ficou vazia - o professor disse que o povo tava lá, no shopping. Duas mocinhas chegaram decepcionadas na aula de step: não conseguiram passar o cartão em nenhuma loja, sistema fora do ar logo no primeiro dia, ó que pena!

Soube que Saramandaia desceu em peso. Isso eu não vi, apenas ouvi falar, por sinal, achei ótimo. Saramandaia go shopping. O pessoal da redação se diz contente. "É que agora tem mais uma opção de almoço". Talvez seja melhor comer papel [como sugeriu Seo Ari outro dia].

3 comentários:

Anônimo disse...

Ai Ai, Tassinha, o que seriam dos meus dias de folga sem sem blog... e agora o de meu pai...kkkkkk.
Esses shps novo me fez mudar a rota de ida ao trabalho, agora só orla, paralela nem pensar!!! O pior é que uma rebanho de sacana tá fazendo o mesmo, ó paí ó...engarrafa até a orla. Putz. Ninguém merece. Daqui há um ano vou no shps novo, quem sabe até lá as máquinas do cartões começas a funcionar... hahahhahahahaha. Beijos, saudades. Ah vc teve aqui e eu num tava, vem outra vez pragente bater papo. Beijos. Juli

Anônimo disse...

Tassinha,

Proponho deflagrarmos a campanha: "Shopping Salvador e Saramandaia: Tuuuudo a ver!" Extensiva a Mussurunga, Bairro da Paz, todas as Cajazeiras e, claro, Quilômetro 17 e Alto do Coqueirinho.
Nesse dia eu vou ir, tá? rsssssss

Bjo,

Seo Ari

Anônimo disse...

Não esqueça que as lojas do shopping, ao anunciar no jornal onde você trabalha, ajudam a pagar seu salário. No fundo estamos todos na mesma matrix(o que não nos impede de abominá-la). Querer botar o nariz para fora da caverna de Platão (desejo explícito no seu texto)já é um bom começo...