10 de junho de 2007

Nostalgia




Em Chantagem e Confissão [Londres, 1929], de Hitchcock, Alice White [Anny Ondra] logo após matar o pintor-estuprador volta pra casa correndo e se atira na cama pra simular que passou a noite toda ali, quietinha, dormindo no sono dos deuses. A ama de casa aparece para acordar Miss White - que na verdade não tava dormindo coisa nenhuma. A moça levanta da cama e vai até a prateleira do quarto pentear os belos fios loiros. Ajeita o cabelo e assim que termina o penteado abre uma latinha de talco. Cheia de charme passa levemente a esponjinha felpuda pelos braços e maçãs do rosto. Acreditem, juro que o cheiro saiu do tubo da tv direto para a minha narina. Serio mesmo, memoria olfativa, bateu uma saudade de cheirinho de talco. Aqui em casa mamãe usava, tia Dora também, sempre tinha uma latinha no armario do banheiro. Lembro quando tinha uns seis, sete anos, Safira ainda era anjo nessa época, os beijos de boa-noite de minha mãe tinham cheiro de talco. Pergunto eu: cadê o talco? Sumiu? Por que? Acho que ninguém usa mais talco a não ser em bumbum de bebê. Eu achava aquela esponjinha a coisa mais gostosa do mundo, sensação macia quando tocava na pele, como se fosse fazer cócegas mas não fazia. Recordação inocente que acaba de esbarrar em uma notícia escabrosa, confira: Um californiano foi sentenciado a 21 meses de prisão por enviar pelo correio três cartas com ameaças falsas de antraz. Na verdade, as cartas eram polvilhadas com talco perfumado da grife de lingerie Victoria's Secret, constatou a perícia. Fonte: FOlha de S. Paulo

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