9 de junho de 2007

Voltando a aquela história de que a dor incentiva a reflexão, nesses últimos três dias de repouso absoluto em casa para cuidar do ombro, parada à força, como disse a Pró, aproveitei para fuçar alguns livros, filmes e músicas. É impressionante como a compreensão flui quando você se dedica a leitura sem interrupções do mundo vasto mundo que arde lá fora. Coisa boa varar a madrugada por pura sede de desvendar o assassinato de Santiago Nasar em "Crónica de una muerte anunciada", de Gabo. E logo na seqüência reler trechos de "O Evengelho Segundo Jesus Cristo", de Saramago, só para fixar na memória novas definições para palavras como sonhos, solidão e amor. Ou então assistir uma sessão corujão-suspense com os clássicos de Hitcock na companhia adorável de mi madre querida e um tablete de Toblerone, o nosso chocolate predileto. Acordar quando o corpo pede sem se preocupar com o toque do despertador e passar o dia de pijama e meias com vários livros abertos ao mesmo tempo alimentando uma literatura íntima escrita a mão no caderno. Tudo baseado em fatos reais. No som vários CDs: Miles Davis, Bob Dylan, Madeleine Peiroux, Gil, Vinicius e Toquinho, Chico - muito Chico, Tom Jobim e Caetano Veloso. Trilha sonora que me deixa em estado de graça, concentração para pensar na vida. Costumo dar permissão à rotina e ela é cruel. Me engole com discrição e antes que eu me dê conta da intensidade dos acontecimentos muitos fatos já estão consumados. Parece um rolo. Compressor, é claro. Sempre tive fascínio por livros. Desde a infância. Acho que devo isso aos meus pais, vó Zilda e Vô Wilson. A mesa da sala - mesa grande de madeira, seis lugares - sempre esteve cheias de livros, pra irritação de mamãe, quando chegava e queria ver o almoço servido. "Mas a mesa está ocupada, dona Norma. Não tinha onde colocar os pratos", defendia-se Jaciara, uma moça de pele parda que trabalhou muitos anos em nossa casa. Como os livros ficavam abertos, ela tinha receio de desmarcar alguma página. Preferia não mexer em nada. Os versos de Caetano exibidos logo acima traduzem com perfeição minha relação com os livros. "A frase, o conceito, o enredo, o verso (e, sem dúvida, sobretudo o verso) é o que pode lançar mundos no mundo". Essa possibilidade de ser transportado para outras realidades é o que fascina e faz querer mais e mais e mais. Ouvi essa música hoje de tarde, enquanto chovia lá fora. Me fez lembrar o filme de Sijie Daí "Balzac e a costureirinha chinesa", uma tradução genial da importância do livro na vida de uma pessoa. Transformação, abertura de consciência, poder de articulação, incentivo a devaneios, alimento cultural e, principalmente, fortalecimento individual.

Nenhum comentário: