22 de julho de 2008

Nota da autora

Pé de volta à Bahia, mais do que na hora de atualizar este template. A seqüência dos dois miúdos negros penteando o cabelo - de costas pra nós, de frente pro mar -, feita logo quando cheguei em Luanda, sai de cena após quase três meses de exibição no rodapé deste blog.


No lugar das cores africanas, trago a sutileza do PB de Verger. As imagens fazem parte da exposição "O Japão de Pierre Verger", em cartaz no Conjunto Cultural da Caixa, na avenida Carlos Gomes. Vale muito a pena conferir.

Semana passada fui lá com Peu. Por alguns minutos ficamos de pé discutindo até que ponto "a fotografia de Verger é ingênua", como sugeria o texto de abertura escrito na parede do foyer. Talvez uma referência ao fato de ter sido uns dos primeiros ensaios de Verger como fotógrafo.

São cem imagens fantásticas, algumas inéditas, inclusive. Tem gueixa de olhar indecifrável, retratos de crianças tímidas - exceto esse guri linguarudo aí do lado - e rapazes banguelos. Curioso ver o Japão da década de 30 nos olhos de Verger. E pensar que aquela cena urbana - com ruas largas, carroças de roda de madeira ao invés de carros consumidores de petróleo, pouca gente transitando a passos lentos entre construções de porte modesto -, apontava para um futuro de paranóia high tech. É nessas horas que me bate um suspiro nostálgico com ar de reflexão careta: o mundo mudou. Mundo que nem vi.


Prostituição
Tóquio, 1934


Tem também fotos de paisagem, com destaque para textura e contraste de belas árvores e pontes tipicamente nipônicas, além de cenas num navio. Tudo isso com uma luz magnífica, de arrancar aplausos de admiração. É incrível como predomina o real preto e o branco. Quase não se vê variações em tons de cinza. Estava meio viciada no enquadramento wildscreen. Ver todas aquelas imagens no quadrado da Rolleiflex me trouxe um certo ânimo. Na verdade, Pedro consegue ser mais fã do formato quadrado do que eu.

Enfim, gostamos muito. Inevitavelmente, o mestre sempre agrada esses dois pendejos viciados em fotografia. Em umas duas fotos Verger aparece discretamente no reflexo do vidro [repare bem essa foto aí em cima]. A gente fica ali horas e horas olhando como se fosse possível fazer algo mais do que apenas reverenciar. Longe da "arte" de imitar, fica a possibilidade de captar uma boa dose de inspiração pelo simples fato de olhar com encanto.


Na ordem, de cima pra baixo: Viagem no Tatsua Maru, idem, Mulheres, Crianças. Japão, 1934

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