Gente daqui
Conheci essa turminha hoje. Não apenas as três que aparecem na foto, mais um monde de "guri", de idade dos 10 aos 13 anos, alunos de uma escola pública de um bairro periférico em Santa Maria. A Pró desenvolve um projeto por lá, acabei indo por tabela, pra fazer umas fotos e conhecer a meninada.
Saímos cedo, mais um dia com frio de rachar, mínima de 7 graus. Aqui, além de frio é úmido. Díficil levantar. Cruzamos a cidade de carro. Aos poucos o Centro foi ficando pra trás, dando vez a casinhas de madeiras erguidas numa região enladeirada, com a calçada ainda por fazer em obras do PAC. Lá do alto, da parte menos favorecida da cidade, se tem uma bela vista.
Na escola, fomos recebidas por um vento gelado que varria o corredor, enquanto a criançada circulava apressada de um lado para o outro. Por debaixo da proteção - kit lã com duas blusas e casaco, além de uma super meia-calça por debaixo do jeans - ainda era possível sentir a temperatura morna revestindo a minha pele, embora a promessa fosse de frio ao longo do dia. Por um instante, tive a sensação de ser mais dolorosa a vida de crianças pobres em locais frios. Lembrei da personagem principal de A menina que roubava livros, Liesel, quando o inverno rigoroso no Leste europeu castigava deixando-a mais irritada, não bastasse toda injustiça que sofria, por ter uma história de vida trágica marcada desde o nascimento. As roupas não eram suficientes, a maioria bastante desgastada pelo tempo. A chuva doía, a casa era pequena, gelada e semi vazia. A sopa nem sempre esquentava porque nem sempre tinha o suficiente para todos. Ela gostava de bater em meninos. E os meninos gostavam de bater nela. Ler era difícil e, ainda sim, ela insistia. Liesel sobrevivia saboreando o gosto amargo da vida. Tive a sensação de ver várias versões dela passar por mim.
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