23 de dezembro de 2008

Ho, ho, ho... Feliz Natal pessoal!

“E você, meu amigo e minha amiga, não tenha medo de consumir com responsabilidade (...) quando você e sua família compram um bem, não estão só realizando um sonho. Estão também contribuindo para manter a roda da economia girando. E isso é bom para todos", presidente Lula*


O banner estendido na faixada externa do Shopping Barra avisa: aberto até 1h da madrugada, aproveite!

Esse espírito consumidor-desenfreado que nos impulsiona em datas estratégicas sempre que causou certo incômodo. Chega a ser um absurdo não ter o pé da árvore rodeado de presentes no fim do ano. Não que eu seja imune ao prazer de gastar dinheiro com bens não duráveis, não posso dizer isso de forma alguma. De uma forma moderada, também estou inserida no processo. Mas é que essa histeria que empurra 92,99% da população para os centros comerciais especialmente no período natalino é mais do que uma piração.

Em pronunciamento à Nação*, nesta segunda-feira (22), o presidente Lula pediu que o brasileiro compre para a “roda da economia” continuar “girando” diante da instabilidade financeira mundial. "A crise não afeta o Brasil. O país está preparado para as turbulências e vai continuar crescendo próximo ano", garantiu. Confesso, estou intrigada.

Tudo bem que o apelo
emotivo é grande: afinal O Bom Velhinho precisa encher o sacão vermelho de presentes e fazer isso para salvar o Brasil não vai ser visto como um martírio. Pelo contrário. Se é pelo bem na Nação, menos um pecado nesse fim de ano.

Ao consumir, o cidadão garante a produção da indústria, as vendas no comércio e a manutenção de empregos. Segundo Lula, o governo tem feito sua parte para evitar os efeitos da crise e cabe ao brasileiro também ajudar. "Se você está com dívidas, procure antes equilibrar seu orçamento. Mas, se tem um dinheirinho no bolso ou recebeu o décimo terceiro, e está querendo comprar uma geladeira, um fogão ou trocar de carro, não frustre seu sonho, com medo do futuro”, orientou o presidente.

Botando na ponta do lápis, são poucos os que fazem alguma associação de fato ao nascimento do Menino Jesus. Nesse exato momento, por exemplo, muitos que me lêem vão me chamar de piegas caso eu resolva citar uma passagem bíblica. E existem até os que questionam a veracidade da data 25 de dezembro como real dia do nascimento do Salvador. Hum. É de se pensar...

Enfim. O que quero dizer é que acho irônico esse movimento desenfreado rumo às compras partir justamente por parte do governo. Mais uma vez me sinto desamparada, sem a devida proteção do Estado num momento de instabilidade mundial. Cadê o Banco Central? A Casa da Moeda, os investidores internacionais?

Neguinho passa o ano todo reclamando que não tem dinheiro, que tá no vermelho, que não sabe mais o que fazer, a grana tá curta, aperta aqui e acolá, parcela a geladeira em 24 meses no novo programa de economia da Coelba, e, no fim do mês, ainda sim, não sobra nada. Mensalidade atrasada do plano de saúde, matrícula do filho, material escolar. As férias na praia indo pelo ralo, as paredes do apê esquentando. Gastos extra com remédios de última hora. Balé da filha só paroano.

Aí chega o dia de receber o glorioso 13º que, de alguma forma, serve pra nos gratificar - ao menos simbolicamente já que a mais valia aplicada sobre o suor do nosso salário supera o complemento recebido por um ano de serviço prestado.

PIMBA. Em menos de uma semana, todo esforço acumulado nos últimos 12 meses, é entregue rapidamente às caixas registradoras dos shoppings centeres. E agora com uma justificativa-plus: o apelo do presidente.
“Quando você e sua família compram um bem, não estão só realizando um sonho. Estão também contribuindo para manter a roda da economia girando. E isso é bom para todos”, acrescentou. Bom para todos? Vai entender.

O "fenômeno" - assim me atrevo a classificar essa embreaguez coletiva - seria plausível
de clemência não fosse tamanho despaltério sustentando uma manobra econômica. Senhor presidente, gostaria de informá-lo que viver no Brasil é caro. Me desculpe, não posso gastar minhas economias com futilidades muito menos investindo do Estado. Aplicar dinheiro no comércio é um investimento é sem retorno: quem faz doação no fim de ano é o Papai Noel. O brasileiro rala pra garantir o mínimo - um prato de comida ou um punhado de conforto. O dia de amanhã ninguém sabe. É necessário poupar para se salvar.

Entre outras medidas citadas pelo presidente como decisão tomada pelo governo para evitar uma recessão no país, temos o controle da inflação, redução da dívida pública, diversificação dos produtos de exportação e a redução de impostos para estimular o consumo. Além de uma reserva internacional de US$ 201 bilhões, aumento no número de empregos com carteira assinada, redução de impostos para estimular o consumo, reforço no caixa dos bancos estatais e quitação de dívidas com organismos internacionais (FMI). "É o melhor natal desde 2003", finalizou Lula. Sapato nele!

(*) em pronunciamento nesta segunda-feira, dia 22, em cadeia nacional de rádio e televisão.

2 comentários:

melina disse...

hehehehe!!!
Tá ótimo teu texto guria!!!
Eu só fico pensando q o Brasil deve estar a um passo de um grande buraco para estarem fazendo esse tipo de apelação... ou seria puro marketing?
...Ah nesse fim de ano me deixa acreditar que as pessoas são verdadeiras...e os apelos reais... como disse a pessoa sem mto estudo que assistiu ao pronunciamento comigo... "Amanhã vou sair para comprar algo porque o Lula pediu".... E eu pensei..."comprei dois livros hoje"... Será que ajuda Lula?...
Ah... aliás eu não tenho décimo terceiro e nem emprego ainda... Alguém tem um aí pra me dar? Tô afim de ajudar o país também!
*
Parabéns Tassinha pela reflexão!
bjoo

Lucas disse...

A nossa geração não curte jesus cristo. Aliás a gente mata tudo, até o rock se foi.