22 de julho de 2007

O dia seguinte

A pessoa vai dormir dez pras seis da manhã cheia de álcool etílico transbordando nas veias. O estado não é over, mas bem que é dose. Joga o vestido em qualquer lugar do quarto, as sadálias ficaram pra trás na sala mesmo. Passa pela frente do espelho e na imagem refletida está escrito: a noite foi divertida. Amanhã, ou melhor, ainda hoje cato tudo, promete a si mesma na tentativa de contrariar a preguiça. A cama de tão desejada parece uma miragem. Basta um passo para alcançar os lençóis limpinhos. Melhor correr, antes que tudo se desfaça. Travesseiro de Marcela para acalmar os sentidos. Cortina fechada, ambiente fresquinho sem ajuda do ar condicionado muito menos ventilador. Mensageiro do vento discreto na janela, ninho perfeito de meter inveja em qualquer passarinho. Sono dos justos. Quer dizer, não é pra tanto. É só um cochilo porque às 10 é hora de ir trabalhar. É domingo, sim, sabemos. Mas tem gente que trabalha domingo. Médico, cozinheiro de restaurante, garçom, agente da SET, guichê de cinema, mocinho que aluga filmes, juiz de futebol, bombeiro, polícia, salva-vidas, carinha do posto de gasolina, caixa de supermercado, motorista de ônibus, taxista, coveiro, piloto de avião, moleque de sinaleira, Faustão... viu aí, não é tão solitário ser jornalista. Pois bem, as horas são contadas e o sono, pelo tamanho da cachaça, promete... promete ser um inferno. Antes mesmo de bater a ressaca, o imprevisível: um martelo desgovernado. Exatamente às 7h30 da manhã de domingo. A pessoa registra, não acredita, põe o travesseiro no ouvido e finge que não é com ela. Deve ser uma parte turbulenta do sonho, despista. Passam três segundos, a realidade volta a tona com uma nova informação: são dois martelos. Um faz toc, o outro faz tac-tac. Juntos eles fazem toc, tac-tac! toc, tac-tac! toc, tac-tac! toc, tac-tac! toc, tac-tac! toc, tac-tac! toc, tac-tac! toc, tac-tac! toc, tac-tac! Assim mesmo sem parar, um eco ininterrupto no juizo. A pessoa levanta no mais perfeito estilo Taz Mania. Rodopia em fúria pela casa em busca de silêncio, cogita até se trancar no banheiro, mas está tudo impregnado. A essa altura sono e nervos já foram para o espaço. Raciocínio ativado, chegou o vizinho novo para ocupar o apartamente debaixo que estava fechado.

3 comentários:

Anônimo disse...

Dá logo uma enquadrada nesse vizinho. Domingo, 7h30, é flórida.

Periga não ser uma boa vizinhança. E isso é ruim. Tomara que estejamos enganados.

Beijo,

Seo Ari

PS. Foi comemorar, é?

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Ham!!! Ainda não tive oportunidade de cruzar com o infeliz. Ou a infeliz, sei lá. Tá vendo aí, nem conheço e já tô toda implicante. E os meus outros quatro vizinhos são tão tranqüilões, eu hein!

P.s.: Fui beber o defundo, rsrs. Brincadeira, melhor que isso.