7 de julho de 2007

Medo da vagina

No Rio, "boyzinhos" bem nascidos espancam uma mulher, empregada doméstica e alegam terem pensado que ela era prostituta. Ainda no Rio, bonitões Globais de terceira categoria se em volvem com dois travestis e uma prostituta, dispensam os homens, e terminam agredindo a mulher e ainda roubando a sua bolsa.Em São Paulo, jovem é preso após atear fogo em prostituta.
Ainda em São Paulo, se não me engano, estudantes de uma escola espancam a servente.

Aqui, em Salvador, jovens do sexo masculino curtem uma brincadeirinha de atirar em mulheres com uma arma de um jogo chamado paintball que, além de machucar, assusta por derramar uma tinta vermelha que se assemelha a sangue. Todos os agressores, jovens e pertencentes à classe média.

Como explicar esse fenômeno? Que tipo de jovem vem sendo formado a partir dos condomínios fechados e dos shopping centers? Quem são esses covardes homens de amanhã?
Sem dúvida, a orientação familiar é fundamental na formação do caráter do indivíduo. É com o exemplo, mais do que com simples palavras, que formamos o caráter dos nossos filhos, que passamos para eles as noções de certo e errado, de justo e injusto, de digno ou indigno, ou seja, as noções de uma convivência ética com o outro.
No texto de Contardo Calligari, transcrito aqui no blog, ele fala na teoria dos "clientes especiais", e reforça-a com a defesa do pai de um dos rapazes que espancaram a doméstica, no Rio: "Prender, botar preso junto com outros bandidos? Essas pessoas que têm estudo, que têm caráter, junto com uns caras desses?"
É assim que tem sido criada uma boa parte dos nossos jovens da classe media. São "clientes especiais" da vida. Moram bem, freqüentam boas escolas e bons ambientes, recebem boas mesadas, ganham carros zero quando passam no vestibular (geralmente de uma faculdadezinha qualquer), vivem nos shoppings, azarando, zoando e adquirindo os mais novos lançamentos de produtos eletroeletrônicos.
Enquanto isso, vai sendo formada uma legião de babacas de griffes caras, Ipods, MP3 e celulares de última geração. Uns cretinos, uns pobres coitados, medrosos, covardes, intolerantes, preconceituosos e perversos.
Mas, uma coisa, também, chama a atenção nesses casos mais recentes: o fato de as vítimas serem sempre mulheres. Por que será?
Em primeiro lugar, pela covardia. As mulheres são mais frágeis, assustam-se com mais facilidade e, via de regra, demoram mais a reagir. Mas, creio que a verdadeira razão é, simplesmente, medo de mulher, ou o que alguns chamam de "medo da vagina".
"...Ela (a vagina) angustia os homens
por ser o lugar de uma castração simbólica.
Na vagina, "não há" alguma coisa.
A vagina põe os homens diretamente diante de seu oposto.
Fala-se muito em inveja do pênis para as mulheres. Que nada.
Hoje, com a liberdade da mulher, o grande trauma é o "medo da vagina".
Os homens têm medo de enfrentar aquela entrada para o ventre,
aquela porta de caverna onde poderíamos nos perder."
Monica Azevedo é jornalista

"...Embora na mulher possa existir algum temor pelo pênis do homem,
nada se compara ao medo que os homens sentem pela vagina.
É um perigo ameaçador
porque não é visível e porque suas propriedades são estranhas.
A vagina, insaciável, que devora o desejo masculino,
libera o sangue menstrual,
acolhe o membro do homem e expulsa o feto ensangüentado."
Regina Navarro Lins, psicanalista e sexóloga

Acho que é disso que padece parte dessa geração: "medo da vagina", medo de mulher. Afinal, que outra explicação poderia haver para essa agressão despropositada?

Eles precisam mostrar a papai que são homenzinhos, que são os machinhos do jeitinho do papai. Só que papai, com eles, bravateia as suas aventuras sexuais, que já comeu umas tantas, que não perdoa uma gostosa, que dá três ou quatro, sem tirar de dentro, que mulher é tudo cachorra e essas pérolas que alguns especimes da raça masculina costumam cultivar.

Acontece que, papai também tem medo de mulher, papai também tem "medo da vagina", mas enfrenta esse medo e, desmerecendo a mulher, consegue ter uma atuação sexual satisfatória (para ele, é claro).

Agora, os filhinhos, não. São mais frageizinhos, nessa vidinha dos seus condomínios fechados e dos seus encantadores shopping centers. Em casa, a Internet mostra as "vagabundas" em série. Todas lá, exibindo o objeto do seu terror, escancarando a tenebrosa gruta, origem dos seus mais terríveis pesadelos.

Mas ele precisa ser igual a papai, precisa mostrar que também é macho e, já que não o consegue pelas vias, digamos normais, das relações sexuais, eles batem, xingam e humilham as mulheres.
Ora, ora... lost boys... nem tudo está perdido. Se o medo de mulher é tanto, se o "medo da vagina" lhe paralisa... muda rapaz.

Quem sabe com um pênis, igual ao do papai, você não será mais feliz?...

Aliás, acho mesmo que é disso que vocês estão precisando. É isso que vocês estão buscando.
Nada contra. Só não vale é ficar batendo em mulher, porque não tem coragem de encarar um macho. E isso, em vários sentidos.

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