30 de julho de 2008

Pela democratização do acesso ao teatro

L'Oratorio de Aurélia, peça internacional que mistura circo, teatro e ilusionismo, encerra turnê no Brasil neste domingo, dia 03, com uma apresentação especial a preço popular no TCA. Às 11h da manhã, inteira a R$ 1, meia a R$ 0,50. Para evitar ação de cambistas, os ingressos serão vendidos minutos antes de iniciar o espetáculo.

Después de bromear un rato...

27 de julho de 2008

Replay água na boca


Fina, macia, crocante e suculenta. Mais uma receita da Lud, de meter inveja em diversos pizzaiolos da cidade.

24 de julho de 2008

Learning chinese

Outro dia li nas páginas National Geographic: "E, de repente, aquela aula de mandarim deixa de parecer uma idéia absurda". Capa, mapa, grande reportagem - uma edição inteira sobre a China. Há uma expectativa de que, futuramente, o mandarim seja tão falado quanto o inglês. Hummm. Recentemente a Unicef lançou uma versão do site oficial toda em mandarim. Hummmm. O próximo filme de Tarantino é em mandarim. Humm. Agora a AP com um kit básico de sobrevivência pra quem vai se aventurar nos Jogos Olímpicos de Pequim. Hum. Mandarim, mandarim, mandarim, teste aí.

P.s.: Não esqueça de pular a lição: I'm american.

23 de julho de 2008

Momento água na boca


Esse é um prato que eu estava salivando faz quase dois meses: carbonara com abobrinha, receita insipirada no livro Jamie at Home, de Jamie Oliver. Vi no blog de Ludmila numa noite insone, vagando na internet, sem ter o que fazer, em Luanda. Por dias e dias rezei pra encontrar abobrinha no supermercado perto da casa onde morava, mas o abastecimento de frutas e verduras em Angola é completamente incerto e irregular. Você nunca sabe o que te espera na prateleira. Não dá pra ficar planejando receitas afim de saciar desejos. Come-se o que tem. Um dia tem beterraba, cebola e batata. E só. Na outra semana, somem as beterrabas e aparecem cenouras. Manjericão fresco, por exemplo, é especiaria rara, raríssima. Na verdade eu nunca vi, o pessoal que dizia encontrar vez ou outra. Sem falar que nem sempre os hortifruti têm aparência agradável ao estômago. É fácil deparar com cebolas semi-estragadas, minando água entre as camadas folhosas, brócolis mofado e presuntos esverdiados. Iogurte então, nem se fala. Por causa da guerra - embora tenha terminado em 2002 -, Angola não produz absolutamente nada em larga escala. Tudo é importado. Tomate e chocolate vêm da África do Sul, carne do Uruguai, queijo da França, arroz é o nosso Tio João e por aí vai. Eu ficava radiante quando encontrava uva e ameixa fresquinhas. Por outro lado, bastante chateada quando tinha que esperar mais de quatro semanas pra encontrar uma latinha de leite condensado. Os produtos chegam no país de navio e o percurso até o consumidor é longo. O porto de Luanda é o mais congestionado do mundo, isso é um fato, qualquer angolano pode te garantir. Às vezes, um navio fica mais de dois meses - isso mesmo, creia! - pra descarregar a mercadoria, por isso muita coisa estraga, passa da validade e, ainda sim, é o que aparece como disponível na prateleira do supermercado mais próximo de você.
Trauma superado, hoje fui passear na Perini. Acordei determinada a fazer a receita da Lud. Até mesmo porque tava tudo tão explicadinho ali no blog, achei que não teria como dar errado, mesmo sendo a primeira tentativa. Dito e certo. Fui de penne, como ela tinha sugerido e ficou uma coiiiiisa suculenta, saborasa. Servido imediatamente, divino. Quase esqueço de fazer a foto, vide o prato semi vazio.
Pra acompanhar, salada verde: alface, manjericão e agrião com um fio de azeite pra temperar. De sobremesa, modestos morangos frescos [sem creme de leite! já foi um monte no molho do macarrão, é bom não abusar da balança]. Digo modesto, porque morango de verdade é no Quebec, confira no blog de Lud, mais uma vez.

Fotógrafo que é fotógrafo, merece!

22 de julho de 2008

Nota da autora

Pé de volta à Bahia, mais do que na hora de atualizar este template. A seqüência dos dois miúdos negros penteando o cabelo - de costas pra nós, de frente pro mar -, feita logo quando cheguei em Luanda, sai de cena após quase três meses de exibição no rodapé deste blog.


No lugar das cores africanas, trago a sutileza do PB de Verger. As imagens fazem parte da exposição "O Japão de Pierre Verger", em cartaz no Conjunto Cultural da Caixa, na avenida Carlos Gomes. Vale muito a pena conferir.

Semana passada fui lá com Peu. Por alguns minutos ficamos de pé discutindo até que ponto "a fotografia de Verger é ingênua", como sugeria o texto de abertura escrito na parede do foyer. Talvez uma referência ao fato de ter sido uns dos primeiros ensaios de Verger como fotógrafo.

São cem imagens fantásticas, algumas inéditas, inclusive. Tem gueixa de olhar indecifrável, retratos de crianças tímidas - exceto esse guri linguarudo aí do lado - e rapazes banguelos. Curioso ver o Japão da década de 30 nos olhos de Verger. E pensar que aquela cena urbana - com ruas largas, carroças de roda de madeira ao invés de carros consumidores de petróleo, pouca gente transitando a passos lentos entre construções de porte modesto -, apontava para um futuro de paranóia high tech. É nessas horas que me bate um suspiro nostálgico com ar de reflexão careta: o mundo mudou. Mundo que nem vi.


Prostituição
Tóquio, 1934


Tem também fotos de paisagem, com destaque para textura e contraste de belas árvores e pontes tipicamente nipônicas, além de cenas num navio. Tudo isso com uma luz magnífica, de arrancar aplausos de admiração. É incrível como predomina o real preto e o branco. Quase não se vê variações em tons de cinza. Estava meio viciada no enquadramento wildscreen. Ver todas aquelas imagens no quadrado da Rolleiflex me trouxe um certo ânimo. Na verdade, Pedro consegue ser mais fã do formato quadrado do que eu.

Enfim, gostamos muito. Inevitavelmente, o mestre sempre agrada esses dois pendejos viciados em fotografia. Em umas duas fotos Verger aparece discretamente no reflexo do vidro [repare bem essa foto aí em cima]. A gente fica ali horas e horas olhando como se fosse possível fazer algo mais do que apenas reverenciar. Longe da "arte" de imitar, fica a possibilidade de captar uma boa dose de inspiração pelo simples fato de olhar com encanto.


Na ordem, de cima pra baixo: Viagem no Tatsua Maru, idem, Mulheres, Crianças. Japão, 1934

19 de julho de 2008

Feito feto no útero, passarinho no ninho

O bom de voltar pra casa é se ver em cada detalhe da rotina que dá sentido ao ambiente familiar. São marcas sutis, sem importância quando afastadas do raio que te ampara no mundo, mas, pelo simples fato de estarem ali, no metro quadrado da família, traduzem misteriosamente quem você é, ou, ao menos, um pedaço, um grande pedaço, do que existe em você. Falo daquela caneca colorida no armário na cozinha. Dos livros empilhados de qualquer forma na estante abarrotada, sempre com espaço para novos ensaios e autores. Dos três telefones pretos e da toalha branca empendurada no banheiro. A voz do maior, quando soa, nem sempre é masculina. São três mulheres para um homem: quatro pratos na mesa do almoço de domingo.

16 de julho de 2008

home sweet home!

8 de julho de 2008

Dá uma geral, faz um bom defumador,
enche a casa de flor
Que eu to voltando
Chico

7 de julho de 2008

Fico por aqui

Muxima é uma palavra bonita que aprendi em Angola. Significa amor, coração, sentimento. Vem do kimbundo, língua falada nas províncias do Bengo, Malanje e Kwanza. Do dia em que decidi voltar pra casa, andei com muxima nos olhos, reparando com um pouco mais de afinco cada detalhe dessa cidade.

Ruas sempre congestionadas por kandongas e jipes de luxo, importados. Desfile de AKs e outras armas de guerra em cada esquina da cidade. Prédios hi-tech, com luz de gerador, recém erguidos na marginal a beira-mar. Os guindastes de contrução. Poeira de arder os olhos e irritar o nariz. A força braçal chinesa. O véu mulçumano. As ofertas das zungueiras. Gente. Gente negra fugida de todas as partes de Angola. Gente negra rica, facilmente identificada por um brilhante azul, da mais pura safira, cravado em anel de ouro. Gente de fora. Gente pobre, muito pobre, de vida miserável abaixo da linha da pobreza, nos musseques com fome, lixo e paludismo. Sem água. Mar e céu cor de cacimbo. Imbundeiros ancestrais de folhas caducas. A leveza dos miúdos dançarinos de kuduro, a ousadia dos putos, pilotos imprudentes de moto, e a birra dos kotas. As catorzinhas. A corrupção amplamente impregnada em todos os níveis sociais. Elementos imediatamente identificados na minha chegada. Após três meses, tudo permanece no mesmo lugar. A diferença é que tive oportunidade de caminhar um pouco entre eles. Hoje olho para Luanda e emprego à cidade um novo significado.

Angola promete. José Eduardo dos Santos, presidente da maioria há 27 anos, governa absoluto no território que foi colônia portuguesa por cinco séculos, lavado por mais de três décadas de sangue do conflito armado mais extenso do mundo ocidental. Promete, mais pra frente, ser alguma coisa passível de compreensão. Digo isso porque, até então, em pleno processo de reconstrução nacional, saio com a sensação de ter pisado em um território sem definição. Olho ao redor e sinto como se tudo e todos seguissem embalados por uma profunda ressaca. O caminho, pra onde o futuro aponta, não me parece promissor.

Aqui estive por cem dias, o suficiente para me revirar de ponta-cabeça. Hoje, com a mala feita, faltando poucos dias para deixar o país, pondero com tranquilidade a minha estada em Angola. Foi na medida certa. Por motivos vários, era necessário a minha vinda. E por outros motivos vários aqui vividos, não poderia ter sido um dia a menos nem a mais.

Falo isso porque vivi tudo ao extremo. Do profissional ao pessoal. Até tive, pela primeira vez na vida, medo do escuro. Medo real, longe de qualquer bicho papão subjetivo. Medo por ter que circular noite a fora em uma cidade desabastecida de luz elétrica, onde aproximadamente 4 milhões de pessoas vivem excluídas nos musseques.

Luanda está longe de ser uma cidade acolhedora. A falta de infra-estrutura, em um universo composto por acirrado desnível social, somado à instabilidade geopolítica - principalmente a situação atual externa, nos países vizinhos - elimina, por exclusão, a condição mínima de bem- estar. O fato de ser estrangeiro pesa ainda mais. Embora seja mão-de-obra necessária à reconstrução do país, o tratamento por parte da maioria da população é hostil, xenofóbico. E tem lá suas razões... A cidade exige, de quem aqui está, pulso firme e estômago forte. Não há muito tempo pra pensar, apenas é necessário agir. Ou melhor, reagir. O que compensa são os objetivos pessoais, o mergulho na cultura africana e, principalmente, tudo aquilo que a gente deixa e recebe ao lançar o corpo no mundo, como as relações estabelecidas em meio ao caos, aquilo que entendo como prova sincera de amizade.

Luanda grita porque assim é necessário para se consolidar como nação. Meus sentidos já não suportam tanta agitação. Volto pra casa em busca de sossego. Para os que me aguardam, muxima é o que levo de melhor após ter conhecido esse pedaço da África.

5 de julho de 2008

Se vê que vai cair
Deita de vez, ó nêgo
Junio Barreto

O diamante é só um lápis que não deu certo
Denis Rivera

4 de julho de 2008

Para apalpar as intimidades do mundo
é preciso saber (...)
como pegar na voz de um peixe
Manoel de Barros

3 de julho de 2008

2 de julho de 2008

Hai que endurecer
Um coração tão fraco
Prá vencer o medo
Do trovão
Sua vida aponta
A contramão...
Lenine e P. Moska

Bahia ou Angola?


Arredores do Benfica

Eu quero ver
Quando Zumbi chegar
O que vai acontecer
Jorge Ben

1 de julho de 2008

Começa hoje minha contagem regressiva de volta pra casa.