30 de setembro de 2008

Intuição








Tem alguma coisa errada aqui no blog.
Não sei o que é, mas não tô gostando.
Xô urucubaca!

24 de setembro de 2008

Fusca azul

para Bruna
Santa Maria, RS

17 de setembro de 2008

Pedaços do dia

Me impressionam as cores dos caminhos por onde tenho passado.
Santa Maria, RS.

Gente daqui

Conheci essa turminha hoje. Não apenas as três que aparecem na foto, mais um monde de "guri", de idade dos 10 aos 13 anos, alunos de uma escola pública de um bairro periférico em Santa Maria. A Pró desenvolve um projeto por lá, acabei indo por tabela, pra fazer umas fotos e conhecer a meninada.

Saímos cedo, mais um dia com frio de rachar, mínima de 7 graus. Aqui, além de frio é úmido. Díficil levantar. Cruzamos a cidade de carro. Aos poucos o Centro foi ficando pra trás, dando vez a casinhas de madeiras erguidas numa região enladeirada, com a calçada ainda por fazer em obras do PAC. Lá do alto, da parte menos favorecida da cidade, se tem uma bela vista.

Na escola, fomos recebidas por um vento gelado que varria o corredor, enquanto a criançada circulava apressada de um lado para o outro. Por debaixo da proteção - kit lã com duas blusas e casaco, além de uma super meia-calça por debaixo do jeans - ainda era possível sentir a temperatura morna revestindo a minha pele, embora a promessa fosse de frio ao longo do dia. Por um instante, tive a sensação de ser mais dolorosa a vida de crianças pobres em locais frios. Lembrei da personagem principal de A menina que roubava livros, Liesel, quando o inverno rigoroso no Leste europeu castigava deixando-a mais irritada, não bastasse toda injustiça que sofria, por ter uma história de vida trágica marcada desde o nascimento. As roupas não eram suficientes, a maioria bastante desgastada pelo tempo. A chuva doía, a casa era pequena, gelada e semi vazia. A sopa nem sempre esquentava porque nem sempre tinha o suficiente para todos. Ela gostava de bater em meninos. E os meninos gostavam de bater nela. Ler era difícil e, ainda sim, ela insistia. Liesel sobrevivia saboreando o gosto amargo da vida. Tive a sensação de ver várias versões dela passar por mim.

Tempo, tempo, tempo, tempo...

Gosto da metáfora das frutas.
Limas no quintal. Santa Maria, RS.

Tradição

Prenda voltando pra casa, depois da escola.
Esses dias dá pra ver uns gaúchos vestidos a caráter na rua.
É a semana Farroupilha. 20 de setembro é dia deles.
Camobi - Santa Maria, RS.

Cenas que vejo da janela de Melina

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Santa Maria, RS

15 de setembro de 2008

Pé de pêra

Faz frio.
Santa Maria, RS

14 de setembro de 2008

Cinema upload

atualizado às 22h50 do dia 17/9


De repente as pessoas voltam a enxergar, termina o filme. Sobe o letreiro, enquanto permaneço catatônica grudada na poltrona do cinema. Gostou?, pergunta um senhor de voz gentil, feição de avô, sentado ao meu lado. Nossa, adorei!, respondo ainda maravilhada. Eu não gostei. É muito triste, a vida não é triste assim.

Silêncio.

A conclusão do senhor com cara de vô me pegou de surpresa e me trouxe um punhado de questionamentos. Lamento ter levantado sem prosseguir o diálago. Se a vida não é triste (pra ele), onde será que ele vive? Por que a história de Saramago (pra ele) é tão irreal? Me veio a tona uma coisa que Camilla sempre me diz: as pessoas em São Paulo bloqueiam a realidade. Seria esse mais um caso de fuga premeditada? Até hoje não entendi direito o que aquele senhor quis me dizer.
Ensaio sobre a cegueira é o filme que mais desejei assistir nos últimos meses. Fissura que começou a ser cultivada desde o dia em que comecei a ler o blog do filme. Enfim, 12 de setembro, o grande dia do lançamento. Elegi como prioridade na minha despedida de São Paulo. É lindo o filme. Agora posso partir tranqüila para a temporada no interior do Rio Grande do Sul.

Levar Saramago para a tela do cinema, pra mim, soava como uma prova de fogo. É que ele tem um jeito tão peculiar de escrever que me dava a impressão de ser impossível manter "Saramago way of written" em qualquer outro suporte que não fosse o papel. Minha curiosidade era saber onde iria parar a elaborada engenharia da escrita. Caberia na tela do cinema? E caso não fosse possível ainda seria uma história de Saramago? Para mim, era como querer musicar uma pintura de Salvador Dalí.

Ansiedade desnecessária. Meirelles tem pegada de gênio para cinema... ainda mais com Charlone, na direção de fotografia. Aliás, colocar a cegueira dentro de um frame isso sim é um grande desafio. E pensar que a cegueira é fotografia branca. Ao invés de escuro, luz. Lindo, lindo. Recomendo demais... vão assistir.

Esses dias assisti também Linha de Passe (de Walter Sales) e Lemon Tree (de Eran Riklis, um iraniano). Em ambos existe uma dose de beleza extraída do que é triste. Ficção honestamente inspirada em retratos do cotidiano. Me fez lembrar uma reflexão lançada por Charlone, mês passado, no Festivel Internacional de Cinema da Bahia, durante apresentação da mesa de Fotografia para cinema. Charlone disse gostar mais quando a ficção brota da vida. Talvez Linha de Passe não tenha me sensibilizado muito pelo fato de a periferia de São Paulo ser uma realidade relativamente conhecida. Ineditismo oposto me veio de sobra no iraniano, embora as duas histórias sejam comoventes por causa dramaticidade do relato. Em Lemon Tree, um pomar de limão é a existência de uma viúva palestina na fronteira da Cisjordânia. Isso é vida no cinema da vida.

12 de setembro de 2008

Sessão da tarde

Encontrei ontem na Pinacoteca. Caetano por Vânia Toledo no frame de Bito.

Poeira urbana

Atrás desses prédios têm umas montanhas verdes. Acredite. Elas estão aí. Dava pra ver no dia que cheguei. Good-bye, São Paulo. Foggy-poluído, é hora de partir.

Encontre-me

São Paulo, SP

10 de setembro de 2008

São Paulo é um surto vez ou outra chamado realidade.

E de repente...

tive uma paixão súbita por São Paulo.
Registro aqui uma confissão.
São muitas idas e vindas, nos últimos anos, a essa cidade perdida. Talvez seja isso. Mas não vou forçar uma explicação. Dessa vez, simplesmente me tocou o coração. Acho que foi aquele vento gélido segunda à noite penetrando na minha nuca sem respeitar o cachecol. Ou então a menina de elegância discreta, de bicicleta numa rua de pedrinhas, esquina com a Mourato Coelho, fazendo pose debaixo de um ipê lilás florido. Lilás com cinza e pedrinhas: uma bela composição. Ou o som das rodas do skate cortando o asfalto sem freio. Nessa cidade, inesperadamente sempre se aproxima um rapaz de skate. E teve o casal deslizando de patins domingo a tarde na Paulista. Se bem que me chamou mais atenção o rapaz bonito, mochila nas costas, patins no pé, sacola de compras equilibrada na mão esquerda ao lado daquele monte de carros na Augusta. E o foggy-poluído falso simulacro londrino que não me deixou ver as montanhas lá no fundo. E o pedaço de pizza banhada por uma Original, de sobremesa um punhado de amigos. Risoto de pera com gorgonzola no bistrô... hummmm, inesquecível. Linha de Passe, Lemon Tree. Água com gás é no cine Reserva. Coisinhas eletrônicas baratinhas na Santa Efigênia. Material de fotógrafo gente grande bem carinho na 7 de abril. Paixãozinha boba, que nem as de menina: acaba logo na esquina. Eu sigo.

7 de setembro de 2008

Lembrança do dia

inspirado em Mia Couto

Em Luanda, nada necessita de entedimento.

4 de setembro de 2008

O fluxo da vida

Há um fio condutor que estrangula a minha rotina. É uma linha tênue e discreta, fininha, quase imperceptível. Todos o tem. E a forma como funciona dizem que é normal. Tenho dúvidas, contesnto. Chamo de linha da vida. Me empurra prum lado depois pra outro. Linha bamba de equilibrista, às vezes é difícil manter o passo firme. Às vezes percorro o trilho de olhos fechados, dou pulos e me empenduro com a mão. Com freqüência, feito um novelo de lã, dá voltas nos meus pés, sobe pra cabeça e, quando menos espero, fico louca. As horas passam voando, o dia vira noite antes do almoço. Elimino os diálogos em casa, fico tensa, quase não vejo os amigos. Horas e horas e horas debruçada sobre projetos com prazo prestes a expirar. Horas e horas e horas implorando pra tudo terminar. Quando cheguei de Angola, jurei de pé junto, no pé da cama, diálogo com olho fixo na imagem do santo, que isso ia mudar. Dar tempo ao tempo. E pensar que durou menos de dois meses. Aproveitar o dia, dormir à noite. Fazer, pelo menos, três refeições por dia. Aposentar o corretivo e o pó compacto, abusar apenas do rímel. Tomar um bronze regular com água de coco. Ver o dia mudar de cor e, perfeitamente, só levantar da cama quando o corpo autorizar. Ler mais, falar menos. Treinar momentos em silêncio. Fugir do ócio sem precisar se enforcar. Peixe contra a maré? Pior do que isso. É o mundo te empurrando com garras de lince invisível. Sei do perigo, quero me libertar. Só não descubro por onde começar.

2 de setembro de 2008

D'A Câmara Clara

O barulho do tempo não é triste: gosto dos sinos, do relógios -- e lembro-me de que originalmente o material fotográfico dependia das técnicas da marcenaria e da mecânica de precisão: as máquinas, no fundo, eram relógios de ver, e talvez em mim alguém muito antigo ainda ouça na máquina fotográfica o ruído vivo da madeira.

Roland Barthes

Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Mário de Andrade

1 de setembro de 2008