31 de outubro de 2008

Velha Bahia

Santo Antônio Além do Carmo. Salvador, BA

29 de outubro de 2008

Quando me pergunto se você existe mesmo, amor
entro logo em órbita no espaço de mim mesmo, amor
Vinicius

25 de outubro de 2008

21 de outubro de 2008

É pedir muito?


Santorini, Grécia. É dela.

Não sei se é natural do ser humano dificultar as coisas. Ou se a parte boa da vida é por natureza difícil. Só sei que tem umas coisas que não dá pra deixar de querer. É que nem beijo na boca ao amanhecer.

16 de outubro de 2008

Deixa ver, com meus olhos de amante saudoso
A Bahia do meu coração
Deixa ver, baixa do Sapateiro Charriou, Barroquinha,Calçada, Tabuão
Sou um amigo que volta feliz pra teus braços abertos, Bahia
Sou poeta e não quero ficar assim longe da tua magia
Deixa ver, teus sobrados, igrejas
Teus santos, ladeiras e montes tal qual um postal
Dá licença de rezar pro Senhor do Bonfim
Salve a Santa Bahia imortal
Bahia dos sonhos mil
Eu fico contente da vida em saber que Bahia é Brasil

11 de outubro de 2008

O mundo me fascina

No reflexo, uma baiana e uma gringa: Nana, gaúcha de sangue italiano da Quarta Colônia.

Pequena grande confissão sobre Angola

Faz meses que cheguei da África, nem na Bahia estou, e ainda sim muita gente me pergunta como são as coisas por lá. A curiosidade é grande, balança mais que atração de circo. Todo mundo quer saber como é, como foi, como será. Todo mundo quer ir, faz como? Fala com quem? É difícil, será que dá? São algumas das perguntas que chegam a mim com freqüência. Considerando que a curiosidade alheia é sempre a mesma, tenho cogitado a possibilidade de gravar uma série de FAQ sobre o dia-a-dia em Luanda. Ao ser lançada a próxima pergunta, bastaria apertar play. Simples assim. Pouparia minha beleza, meus ânimos, meus nervos.

É tão chato falar sobre Angola. Tão tão tão... tão. Das poucas vezes que tentei explicar, vi nos olhos diante de mim sinais nítidos de que não fui compreendida. Alguns me rotularam de fraca por ter ficado menos que o previsto. Outros, de fresca, antipática. Salve umas conversas que tive com pessoas especialmente queridas, universo restrito, possível de contar a quantidade de seres incluídos com auxílio dos dedos de uma única mão.

Em resumo, pra quem quer saber, a rotina é absurdamente difícil. A cada 12h você se depara com um absurdo. Ou seja, são, pelo menos, dois absurdos por dia... no mínimo. Mas dentro daquele contexto, não é nada demais, nada anormal. Afinal não ter água em casa, ficar horas e horas preso no engarrafamento ao lado de pessoas armadas, famintas e/ou amputadas, com motoristas dirigindo loucamente, sendo você especialmente conduzido por uma criatura que não entende de direção defensiva, sequer sabe o que fazer ao engatar a ré, e, ainda assim, ele é o seu motorista a te transportar em um veículo nitidamente avariado. Não ter luz ou pegar malária... ahhhh que frescura, que bobagem. Tão trivial, tão comum. Você recebe em dólar, é pago pra isso. Evite o desgaste, pra que questionar? Só há duas saídas: engula o espanto ou depressa pule fora. Porque inevitávelmente, todo mundo vive esse ritmo - pobre ou rico, nativo ou forasteiro. Em pouco tempo fica fácil mapear a escala dos mais atingidos. Veja bem, não há o grupo dos não-atingidos. A diferença é que uns são mais outros são menos.

E ainda tem a tal da ética profissional. Bastidores sejam preservados. Sobre governo, prática bélica, instabilidade geo-política, chefe de estado - resumo de uma história atual, nua, crua e viva -nem tudo pode ser dito. E tem a bagagem subjetiva, aquele punhado de impressões, sensações, surtos e delírios que, raramente, você consegue compartilhar na íntegra com alguém além do seu eu-íntimo. Aí sim o bicho pega. Não raro, é grande a minha aflição. Chamo pelo Cosmos, por Deus, Buda, Dalai Lama. Oxalá e a minha Baía de Todos os Santos. Quero colo, painho, mãinha, minha cama, suplico mais do que criança em noite de sonho ruim. Clamo pela força que vem das montanhas, o verde me purifica, alivia. E só descanso no azul. Tenho paz, quando me encontro na beira do mar.

Támeentendendo? Angola é aquele tipo de lugar que é preciso estar para compreender. Não é uma questão de assimilar, pesquisar, se informar. Esqueça os livros, os relatórios da ONU e demais agências internacionais. Não passam de dados, números, cifras. Mera estatística sem alcance sobre a realidade dos seres envolvidos. Até o Oráculo terá pouco a ensinar.




























"A descrição da vida não vale a sensação da vida"
Machado de Assis


Para entender Luanda, o esforço é outro. Diria até que passa por um processo muito mais simples, porém complexo: tem que viver pra sentir.

Reli o parágrafo a cima pra encerrar o post e veja só, perto do fim, me peguei no ato falho das idéias. Simples não combina com complexo. A condição "simples", automáticamente, elimina, descarta, qualquer tipo de emaranhado, dificuldade. Logo, o que é simples não pode ser complexo. Né não? Não. Não é não.

Eis o paradoxo da vida, quando deparamos com uma nova rima. Referênciais desconstruídos. De repente, dois mais dois dá cinco. Pequenos grandes detalhes, só a vida ensina. Por isso digo que pra entender África é preciso estar em África. Vivenciar, como se fosse um estado de espírito.

Vá lá e volte pra me contar. Quem sabe a gente não chega em algum lugar.

10 de outubro de 2008

Ironia não faz boa cama com a saudade.
O que é a saudade senão uma ironia do tempo e da fortuna?
Machado de Assis

8 de outubro de 2008

Sobre encontros, idas & vindas

Itaara. Balneário Pinhal, RS



Sobre esquinas, sentimentos & lugares






















Itaara. Balneário Pinhal, RS

7 de outubro de 2008

A notícia como ela é

ou seria (?) A vida como ela é

Cada 3 segundos muere un niño menor de 5 años por causas que podrían evitarse [+]

Cada tres segundos muere un niño en el mundo antes de cumplir los cinco años -10 millones cada año- y la mayoría de las veces por causas que podrían prevenirse, aunque el 99% de estos menores viven en países en desarrollo, según recuerda el último estudio de Save the Children.

Enfermedades como la malaria, el sarampión, el sida, la diarrea y la neumonía son las cinco causas fundamentales del 90% de las muertes de estos niños, la mitad de ellas se producen en seis países (India, Nigeria, República Democrática de Congo, Etiopía, Pakistán y China).

Muchas de estas enfermedades son evitables con vacunas o material sanitario de bajo coste, según ha explicado en la presentación del informe María Jesús Mohedano, de Save the Children, aunque ha lamentado que se mire con "resignación" la muerte cada año de estos 10 millones de niños.

----> Traduzindo a nota acima: a cada palavra que digito neste post morre uma criança vítima de doenças facilmente evitáveis. Aos minimamente sensíveis, é de partir o coração, né não? Não. Não é não. A gente acha que se comove com esse tipo de notícia, porque fomos 'politicamente bem educados' pra se importar com a miséria alheia ao invés de fechar os olhos como 'os burgueses malditos'. Alguns assim foram, pelo menos. Aí, vez ou outra, numa mesa de bar, rodeado de amigos, a gente passa horas e horas falando sobre dados, casos e estatísticas, índices elevados de miséria [guerra, fome, injustiças e doenças] no mundo. Assim como "Os sonhadores", de Bertolucci, somos rebeldes e bem informados. Pronto, é para os 'politicamente bem informados' que esse tipo de notícia é publicada. Agora eu pergunto: e daí? Em poucos minutos eu e você vamos desligar o computador. Antes de dormir vamos reclamar da vida. Veja bem, vamos reclamar da nossa vida. É típico do ser humano dar pouca importância ao universo ao redor. Salve algumas excessões como Madre Teresa, Gandhi, Sérgio Vieira de Melo e o Dalai Lama [esqueci de alguém?]. No geral, o que conta mesmo, o que angustia e nos faz perder o sono é, essencialmente, o nosso infinito particular. É o relacionamento em crise. É o filho que dá trabalho. É o pai, a mãe, a tia, o vizinho que não param de encher o saco. É a casa dos sonhos, a viagem dos sonhos, cada vez mais difícil de alcançar. O prazo na faculdade prestes a expirar, trabalhos pra entregar. É o chefe chato, no emprego chato, que insiste naquele papo chato e nem fala em aumento de salário. As contas pra pagar. O trânsito infernal, o candidato que não foi eleito, o político bandido que não foi preso. O príncipe que não chega. Etc etc etc, meu Deus! Como a vida é injusta... comigo. Depois do almoço e do jantar, vamos continuar jogando excesso de comida no lixo e quando o G8 for discutir o biodiesel, a gente vai ter medo de produzir combustível de plantinhas como soja ou dendê "porque pode faltar comida nos países subdesenvolvidos" [fale sério! ainda tem gente que cai nisso]. Depois de 'mais um dia de cão' [afinal nada dá certo... comigo], vamos continuar tomando 15 minutos de banho quente pra relaxar, sem se importar com um possível déficit de água no planeta. Afinal, a Europa e o Iraque que se cuidem! No Brasil não vai faltar água [será?]. Vamos continuar consumindo varias deliciosas guloseimas artificialmente aromatizadas, várias latinhas e trequinhos que nos saltam os olhos nas prateleiras, especialmente produzidos pela irrestível indústria dos bens de consumo não duráveis, mesmo sem saber o que fazer no final com as embalagens. Ah, é descartável. Joga no lixo! Alguém vem recolher mais tarde. E quando o pivete maltrapilho se aproximar na esquina, vamos acelerar o passo ou fechar a janela do carro, afinal, ele - pobre, desamparado e faminto - é uma ameaça. Afinal, ele fuma crack. Eu e você [bem nutridos] fumamos um baseado e nos banhamos de cerveja, diga-se de passagem. Né não? Tô mentindo? Agora me diga: pra que esse tipo de notícia 'mera estatística' é publicada? Volte pro início do post e conte quantas crianças acabaram de morrer. E me diga: por acaso mudou a sua vida? Fiz você perder o sono essa noite? Ou você, apenas, ganhou mais pontos no clube dos leitores bem informados sobre a realidade... alheia?













Contou?
Ok, agora desligue o computador e vá ler um livro - como de costume - pra continuar bem informado.

Politik kills Politik needs votes Politik needs your mind Politik needs human beings Politik need lies That's why my friend it's an evidence: politik is violence [Manu Chao]

6 de outubro de 2008

O que você sabe sobre o seu candidato?

Quem, de fato, ele é? Ou o que a campanha pintou para te mostrar?
É esse tipo de detalhe que a gente deve prestar atenção antes de votar.
2º turno em Salvador: João não!

5 de outubro de 2008

Nem tudo o que rima combina
Quer ver?...
Pão com limão
combina não.
Ari Coelho

3 de outubro de 2008

Felicidades, Betaaaaa!!!


Hoje vai ter uma fessstaaaa!!!
Cachaça com guaraná!!! Muitos doces pra vocêÊêÊê
É o seu aniversárioooo
Vamos festejar e os amigos recebeeeerrr
MIL felicidades e amor no coração!
Que sua vida seja sempre doce e emoção!!!

snif, snif... fiz o convite e num vou :(

2 de outubro de 2008

Só pode ser miragem...

a quantidade de homem bonito que tem nessa cidade.

1 de outubro de 2008

Saudade

há menos p e i x i n h o s a nadar no mar...

Para arejar a alma

















Um punhado de verde. Céu intenso, sol morno, vento fresco. Sabores românticos. E uma estrada.
É o que me basta.


Me gusta la Polar

Bahia com Santa Maria, atiradas num balcão, riscadas numa noite arriscada

Tá vendo esse rótulo largado em cima do balcão? Pura enganação. Esqueça a Ambev e similares. Cerveja de gaúcho é Polar. Olha aqui:

Otro lado en la calle

A Favorita

Lara devia matar Flora no final. Happy end. Fica a dica.

30 de setembro de 2008

Intuição








Tem alguma coisa errada aqui no blog.
Não sei o que é, mas não tô gostando.
Xô urucubaca!

24 de setembro de 2008

Fusca azul

para Bruna
Santa Maria, RS

17 de setembro de 2008

Pedaços do dia

Me impressionam as cores dos caminhos por onde tenho passado.
Santa Maria, RS.

Gente daqui

Conheci essa turminha hoje. Não apenas as três que aparecem na foto, mais um monde de "guri", de idade dos 10 aos 13 anos, alunos de uma escola pública de um bairro periférico em Santa Maria. A Pró desenvolve um projeto por lá, acabei indo por tabela, pra fazer umas fotos e conhecer a meninada.

Saímos cedo, mais um dia com frio de rachar, mínima de 7 graus. Aqui, além de frio é úmido. Díficil levantar. Cruzamos a cidade de carro. Aos poucos o Centro foi ficando pra trás, dando vez a casinhas de madeiras erguidas numa região enladeirada, com a calçada ainda por fazer em obras do PAC. Lá do alto, da parte menos favorecida da cidade, se tem uma bela vista.

Na escola, fomos recebidas por um vento gelado que varria o corredor, enquanto a criançada circulava apressada de um lado para o outro. Por debaixo da proteção - kit lã com duas blusas e casaco, além de uma super meia-calça por debaixo do jeans - ainda era possível sentir a temperatura morna revestindo a minha pele, embora a promessa fosse de frio ao longo do dia. Por um instante, tive a sensação de ser mais dolorosa a vida de crianças pobres em locais frios. Lembrei da personagem principal de A menina que roubava livros, Liesel, quando o inverno rigoroso no Leste europeu castigava deixando-a mais irritada, não bastasse toda injustiça que sofria, por ter uma história de vida trágica marcada desde o nascimento. As roupas não eram suficientes, a maioria bastante desgastada pelo tempo. A chuva doía, a casa era pequena, gelada e semi vazia. A sopa nem sempre esquentava porque nem sempre tinha o suficiente para todos. Ela gostava de bater em meninos. E os meninos gostavam de bater nela. Ler era difícil e, ainda sim, ela insistia. Liesel sobrevivia saboreando o gosto amargo da vida. Tive a sensação de ver várias versões dela passar por mim.

Tempo, tempo, tempo, tempo...

Gosto da metáfora das frutas.
Limas no quintal. Santa Maria, RS.

Tradição

Prenda voltando pra casa, depois da escola.
Esses dias dá pra ver uns gaúchos vestidos a caráter na rua.
É a semana Farroupilha. 20 de setembro é dia deles.
Camobi - Santa Maria, RS.

Cenas que vejo da janela de Melina

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Santa Maria, RS

15 de setembro de 2008

Pé de pêra

Faz frio.
Santa Maria, RS

14 de setembro de 2008

Cinema upload

atualizado às 22h50 do dia 17/9


De repente as pessoas voltam a enxergar, termina o filme. Sobe o letreiro, enquanto permaneço catatônica grudada na poltrona do cinema. Gostou?, pergunta um senhor de voz gentil, feição de avô, sentado ao meu lado. Nossa, adorei!, respondo ainda maravilhada. Eu não gostei. É muito triste, a vida não é triste assim.

Silêncio.

A conclusão do senhor com cara de vô me pegou de surpresa e me trouxe um punhado de questionamentos. Lamento ter levantado sem prosseguir o diálago. Se a vida não é triste (pra ele), onde será que ele vive? Por que a história de Saramago (pra ele) é tão irreal? Me veio a tona uma coisa que Camilla sempre me diz: as pessoas em São Paulo bloqueiam a realidade. Seria esse mais um caso de fuga premeditada? Até hoje não entendi direito o que aquele senhor quis me dizer.
Ensaio sobre a cegueira é o filme que mais desejei assistir nos últimos meses. Fissura que começou a ser cultivada desde o dia em que comecei a ler o blog do filme. Enfim, 12 de setembro, o grande dia do lançamento. Elegi como prioridade na minha despedida de São Paulo. É lindo o filme. Agora posso partir tranqüila para a temporada no interior do Rio Grande do Sul.

Levar Saramago para a tela do cinema, pra mim, soava como uma prova de fogo. É que ele tem um jeito tão peculiar de escrever que me dava a impressão de ser impossível manter "Saramago way of written" em qualquer outro suporte que não fosse o papel. Minha curiosidade era saber onde iria parar a elaborada engenharia da escrita. Caberia na tela do cinema? E caso não fosse possível ainda seria uma história de Saramago? Para mim, era como querer musicar uma pintura de Salvador Dalí.

Ansiedade desnecessária. Meirelles tem pegada de gênio para cinema... ainda mais com Charlone, na direção de fotografia. Aliás, colocar a cegueira dentro de um frame isso sim é um grande desafio. E pensar que a cegueira é fotografia branca. Ao invés de escuro, luz. Lindo, lindo. Recomendo demais... vão assistir.

Esses dias assisti também Linha de Passe (de Walter Sales) e Lemon Tree (de Eran Riklis, um iraniano). Em ambos existe uma dose de beleza extraída do que é triste. Ficção honestamente inspirada em retratos do cotidiano. Me fez lembrar uma reflexão lançada por Charlone, mês passado, no Festivel Internacional de Cinema da Bahia, durante apresentação da mesa de Fotografia para cinema. Charlone disse gostar mais quando a ficção brota da vida. Talvez Linha de Passe não tenha me sensibilizado muito pelo fato de a periferia de São Paulo ser uma realidade relativamente conhecida. Ineditismo oposto me veio de sobra no iraniano, embora as duas histórias sejam comoventes por causa dramaticidade do relato. Em Lemon Tree, um pomar de limão é a existência de uma viúva palestina na fronteira da Cisjordânia. Isso é vida no cinema da vida.

12 de setembro de 2008

Sessão da tarde

Encontrei ontem na Pinacoteca. Caetano por Vânia Toledo no frame de Bito.

Poeira urbana

Atrás desses prédios têm umas montanhas verdes. Acredite. Elas estão aí. Dava pra ver no dia que cheguei. Good-bye, São Paulo. Foggy-poluído, é hora de partir.

Encontre-me

São Paulo, SP

10 de setembro de 2008

São Paulo é um surto vez ou outra chamado realidade.

E de repente...

tive uma paixão súbita por São Paulo.
Registro aqui uma confissão.
São muitas idas e vindas, nos últimos anos, a essa cidade perdida. Talvez seja isso. Mas não vou forçar uma explicação. Dessa vez, simplesmente me tocou o coração. Acho que foi aquele vento gélido segunda à noite penetrando na minha nuca sem respeitar o cachecol. Ou então a menina de elegância discreta, de bicicleta numa rua de pedrinhas, esquina com a Mourato Coelho, fazendo pose debaixo de um ipê lilás florido. Lilás com cinza e pedrinhas: uma bela composição. Ou o som das rodas do skate cortando o asfalto sem freio. Nessa cidade, inesperadamente sempre se aproxima um rapaz de skate. E teve o casal deslizando de patins domingo a tarde na Paulista. Se bem que me chamou mais atenção o rapaz bonito, mochila nas costas, patins no pé, sacola de compras equilibrada na mão esquerda ao lado daquele monte de carros na Augusta. E o foggy-poluído falso simulacro londrino que não me deixou ver as montanhas lá no fundo. E o pedaço de pizza banhada por uma Original, de sobremesa um punhado de amigos. Risoto de pera com gorgonzola no bistrô... hummmm, inesquecível. Linha de Passe, Lemon Tree. Água com gás é no cine Reserva. Coisinhas eletrônicas baratinhas na Santa Efigênia. Material de fotógrafo gente grande bem carinho na 7 de abril. Paixãozinha boba, que nem as de menina: acaba logo na esquina. Eu sigo.

7 de setembro de 2008

Lembrança do dia

inspirado em Mia Couto

Em Luanda, nada necessita de entedimento.

4 de setembro de 2008

O fluxo da vida

Há um fio condutor que estrangula a minha rotina. É uma linha tênue e discreta, fininha, quase imperceptível. Todos o tem. E a forma como funciona dizem que é normal. Tenho dúvidas, contesnto. Chamo de linha da vida. Me empurra prum lado depois pra outro. Linha bamba de equilibrista, às vezes é difícil manter o passo firme. Às vezes percorro o trilho de olhos fechados, dou pulos e me empenduro com a mão. Com freqüência, feito um novelo de lã, dá voltas nos meus pés, sobe pra cabeça e, quando menos espero, fico louca. As horas passam voando, o dia vira noite antes do almoço. Elimino os diálogos em casa, fico tensa, quase não vejo os amigos. Horas e horas e horas debruçada sobre projetos com prazo prestes a expirar. Horas e horas e horas implorando pra tudo terminar. Quando cheguei de Angola, jurei de pé junto, no pé da cama, diálogo com olho fixo na imagem do santo, que isso ia mudar. Dar tempo ao tempo. E pensar que durou menos de dois meses. Aproveitar o dia, dormir à noite. Fazer, pelo menos, três refeições por dia. Aposentar o corretivo e o pó compacto, abusar apenas do rímel. Tomar um bronze regular com água de coco. Ver o dia mudar de cor e, perfeitamente, só levantar da cama quando o corpo autorizar. Ler mais, falar menos. Treinar momentos em silêncio. Fugir do ócio sem precisar se enforcar. Peixe contra a maré? Pior do que isso. É o mundo te empurrando com garras de lince invisível. Sei do perigo, quero me libertar. Só não descubro por onde começar.

2 de setembro de 2008

D'A Câmara Clara

O barulho do tempo não é triste: gosto dos sinos, do relógios -- e lembro-me de que originalmente o material fotográfico dependia das técnicas da marcenaria e da mecânica de precisão: as máquinas, no fundo, eram relógios de ver, e talvez em mim alguém muito antigo ainda ouça na máquina fotográfica o ruído vivo da madeira.

Roland Barthes

Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Mário de Andrade

1 de setembro de 2008

31 de agosto de 2008

Papel e fósforo

Duas embalagens que guardo com apreço porque muito me agrada o design. Não sei de onde tiraram esse rótulo vermelho e fonte com cara de 1950. Curioso o adjetivo "alvo" - pra não dizer hilário. Só podia mesmo ser made in Salvador. A venda na barraquinha ali na esquina. O único defeito é não ter cola pra grudar as pontinhas. Nada que uma lambida caprichada não resolva. Já o fósforo é africano vindo de minhas andanças em Angola, embora a origem da produção seja a África do Sul.

De mis pasos

Julieta Venegas y Juan Son

28 de agosto de 2008

Divina fadinha











Me aparece em sonho e diz pra ir lá.Tem rosto bonito, mas não sei desenhar.

Porque prefiro Chávez a Lula*

A gasolina brasileira está no patamar mais caro do mundo, segundo levantamento da consultoria Airinc, especializada em pesquisa de preços globais. A pesquisa compara preços em dólar ao redor do mundo tendo como medida o galão americano do combustível (3,8 litros).

Hoje, o preço médio do litro da gasolina comercializada no Brasil é de R$ 2,50. Desse total, só ICMS, Cide, PIS e Cofins respondem por R$ 1,14. Em Salvador, pago R$ 2,66 ou R$ 2,69 por litro.

A gasolina mais barata do mundo é vendida na Venezuela. Com produção própria e subsídios do governo, o consumidor paga US$ 0,12.

(*) informações tiradas da reportagem Imposto põe gasolina entre a mais cara, publicada hoje na Folha de S. Paulo.

Quarta-feira











é downhill!

O gosto da vida









Tem dia que tudo fica com o sabor diferente. Até o pão com manteiga.

27 de agosto de 2008

Fascínio pelo espaço

Collide galaxies. Image of the day from Nasa.


Nestante tava ali espichada na varanda esticando corpo e espírito para avistar o planeta Marte a apenas 26 milhões de quilômetros da Terra. A distância mais curta registrada nos últimos 59 mil anos. E láestava o planeta vermelho brilhando forte feito prata bem lustrosa, mostrando-se diferente de qualquer estrela. Esperei a lua mas não consegui avistá-la. E pensar que Marte é o planeta mais próximo da Terra e, portanto, o próximo objetivo humano no espaço, depois da Lua. Sei não... fosse eu uma marciana manteria distância de toda essa loucura.

26 de agosto de 2008

Divino Gil

À vontade num quarto de hotel na Finlândia. Gravado num celular.

Esse jeito de ser Gilberto Gil me emociona.

.

24 de agosto de 2008

Fim de semana

é downhill.

23 de agosto de 2008

Sábado


Hoje o dia terminou com um cinza estranhamente bonito. De tom fechado, daquele que indica princípio de tormenta, mas sem ser amargurado. Parecia uma lavagem. Vi uma nuvem densa e longa com um fim de tarde prateado por cima das dunas da Praia do Flamengo. Senti saudade.

21 de agosto de 2008

My favo

all.we.need

30 de julho de 2008

Pela democratização do acesso ao teatro

L'Oratorio de Aurélia, peça internacional que mistura circo, teatro e ilusionismo, encerra turnê no Brasil neste domingo, dia 03, com uma apresentação especial a preço popular no TCA. Às 11h da manhã, inteira a R$ 1, meia a R$ 0,50. Para evitar ação de cambistas, os ingressos serão vendidos minutos antes de iniciar o espetáculo.

Después de bromear un rato...

27 de julho de 2008

Replay água na boca


Fina, macia, crocante e suculenta. Mais uma receita da Lud, de meter inveja em diversos pizzaiolos da cidade.

24 de julho de 2008

Learning chinese

Outro dia li nas páginas National Geographic: "E, de repente, aquela aula de mandarim deixa de parecer uma idéia absurda". Capa, mapa, grande reportagem - uma edição inteira sobre a China. Há uma expectativa de que, futuramente, o mandarim seja tão falado quanto o inglês. Hummm. Recentemente a Unicef lançou uma versão do site oficial toda em mandarim. Hummmm. O próximo filme de Tarantino é em mandarim. Humm. Agora a AP com um kit básico de sobrevivência pra quem vai se aventurar nos Jogos Olímpicos de Pequim. Hum. Mandarim, mandarim, mandarim, teste aí.

P.s.: Não esqueça de pular a lição: I'm american.

23 de julho de 2008

Momento água na boca


Esse é um prato que eu estava salivando faz quase dois meses: carbonara com abobrinha, receita insipirada no livro Jamie at Home, de Jamie Oliver. Vi no blog de Ludmila numa noite insone, vagando na internet, sem ter o que fazer, em Luanda. Por dias e dias rezei pra encontrar abobrinha no supermercado perto da casa onde morava, mas o abastecimento de frutas e verduras em Angola é completamente incerto e irregular. Você nunca sabe o que te espera na prateleira. Não dá pra ficar planejando receitas afim de saciar desejos. Come-se o que tem. Um dia tem beterraba, cebola e batata. E só. Na outra semana, somem as beterrabas e aparecem cenouras. Manjericão fresco, por exemplo, é especiaria rara, raríssima. Na verdade eu nunca vi, o pessoal que dizia encontrar vez ou outra. Sem falar que nem sempre os hortifruti têm aparência agradável ao estômago. É fácil deparar com cebolas semi-estragadas, minando água entre as camadas folhosas, brócolis mofado e presuntos esverdiados. Iogurte então, nem se fala. Por causa da guerra - embora tenha terminado em 2002 -, Angola não produz absolutamente nada em larga escala. Tudo é importado. Tomate e chocolate vêm da África do Sul, carne do Uruguai, queijo da França, arroz é o nosso Tio João e por aí vai. Eu ficava radiante quando encontrava uva e ameixa fresquinhas. Por outro lado, bastante chateada quando tinha que esperar mais de quatro semanas pra encontrar uma latinha de leite condensado. Os produtos chegam no país de navio e o percurso até o consumidor é longo. O porto de Luanda é o mais congestionado do mundo, isso é um fato, qualquer angolano pode te garantir. Às vezes, um navio fica mais de dois meses - isso mesmo, creia! - pra descarregar a mercadoria, por isso muita coisa estraga, passa da validade e, ainda sim, é o que aparece como disponível na prateleira do supermercado mais próximo de você.
Trauma superado, hoje fui passear na Perini. Acordei determinada a fazer a receita da Lud. Até mesmo porque tava tudo tão explicadinho ali no blog, achei que não teria como dar errado, mesmo sendo a primeira tentativa. Dito e certo. Fui de penne, como ela tinha sugerido e ficou uma coiiiiisa suculenta, saborasa. Servido imediatamente, divino. Quase esqueço de fazer a foto, vide o prato semi vazio.
Pra acompanhar, salada verde: alface, manjericão e agrião com um fio de azeite pra temperar. De sobremesa, modestos morangos frescos [sem creme de leite! já foi um monte no molho do macarrão, é bom não abusar da balança]. Digo modesto, porque morango de verdade é no Quebec, confira no blog de Lud, mais uma vez.

Fotógrafo que é fotógrafo, merece!

22 de julho de 2008

Nota da autora

Pé de volta à Bahia, mais do que na hora de atualizar este template. A seqüência dos dois miúdos negros penteando o cabelo - de costas pra nós, de frente pro mar -, feita logo quando cheguei em Luanda, sai de cena após quase três meses de exibição no rodapé deste blog.


No lugar das cores africanas, trago a sutileza do PB de Verger. As imagens fazem parte da exposição "O Japão de Pierre Verger", em cartaz no Conjunto Cultural da Caixa, na avenida Carlos Gomes. Vale muito a pena conferir.

Semana passada fui lá com Peu. Por alguns minutos ficamos de pé discutindo até que ponto "a fotografia de Verger é ingênua", como sugeria o texto de abertura escrito na parede do foyer. Talvez uma referência ao fato de ter sido uns dos primeiros ensaios de Verger como fotógrafo.

São cem imagens fantásticas, algumas inéditas, inclusive. Tem gueixa de olhar indecifrável, retratos de crianças tímidas - exceto esse guri linguarudo aí do lado - e rapazes banguelos. Curioso ver o Japão da década de 30 nos olhos de Verger. E pensar que aquela cena urbana - com ruas largas, carroças de roda de madeira ao invés de carros consumidores de petróleo, pouca gente transitando a passos lentos entre construções de porte modesto -, apontava para um futuro de paranóia high tech. É nessas horas que me bate um suspiro nostálgico com ar de reflexão careta: o mundo mudou. Mundo que nem vi.


Prostituição
Tóquio, 1934


Tem também fotos de paisagem, com destaque para textura e contraste de belas árvores e pontes tipicamente nipônicas, além de cenas num navio. Tudo isso com uma luz magnífica, de arrancar aplausos de admiração. É incrível como predomina o real preto e o branco. Quase não se vê variações em tons de cinza. Estava meio viciada no enquadramento wildscreen. Ver todas aquelas imagens no quadrado da Rolleiflex me trouxe um certo ânimo. Na verdade, Pedro consegue ser mais fã do formato quadrado do que eu.

Enfim, gostamos muito. Inevitavelmente, o mestre sempre agrada esses dois pendejos viciados em fotografia. Em umas duas fotos Verger aparece discretamente no reflexo do vidro [repare bem essa foto aí em cima]. A gente fica ali horas e horas olhando como se fosse possível fazer algo mais do que apenas reverenciar. Longe da "arte" de imitar, fica a possibilidade de captar uma boa dose de inspiração pelo simples fato de olhar com encanto.


Na ordem, de cima pra baixo: Viagem no Tatsua Maru, idem, Mulheres, Crianças. Japão, 1934

19 de julho de 2008

Feito feto no útero, passarinho no ninho

O bom de voltar pra casa é se ver em cada detalhe da rotina que dá sentido ao ambiente familiar. São marcas sutis, sem importância quando afastadas do raio que te ampara no mundo, mas, pelo simples fato de estarem ali, no metro quadrado da família, traduzem misteriosamente quem você é, ou, ao menos, um pedaço, um grande pedaço, do que existe em você. Falo daquela caneca colorida no armário na cozinha. Dos livros empilhados de qualquer forma na estante abarrotada, sempre com espaço para novos ensaios e autores. Dos três telefones pretos e da toalha branca empendurada no banheiro. A voz do maior, quando soa, nem sempre é masculina. São três mulheres para um homem: quatro pratos na mesa do almoço de domingo.

16 de julho de 2008

home sweet home!

8 de julho de 2008

Dá uma geral, faz um bom defumador,
enche a casa de flor
Que eu to voltando
Chico

7 de julho de 2008

Fico por aqui

Muxima é uma palavra bonita que aprendi em Angola. Significa amor, coração, sentimento. Vem do kimbundo, língua falada nas províncias do Bengo, Malanje e Kwanza. Do dia em que decidi voltar pra casa, andei com muxima nos olhos, reparando com um pouco mais de afinco cada detalhe dessa cidade.

Ruas sempre congestionadas por kandongas e jipes de luxo, importados. Desfile de AKs e outras armas de guerra em cada esquina da cidade. Prédios hi-tech, com luz de gerador, recém erguidos na marginal a beira-mar. Os guindastes de contrução. Poeira de arder os olhos e irritar o nariz. A força braçal chinesa. O véu mulçumano. As ofertas das zungueiras. Gente. Gente negra fugida de todas as partes de Angola. Gente negra rica, facilmente identificada por um brilhante azul, da mais pura safira, cravado em anel de ouro. Gente de fora. Gente pobre, muito pobre, de vida miserável abaixo da linha da pobreza, nos musseques com fome, lixo e paludismo. Sem água. Mar e céu cor de cacimbo. Imbundeiros ancestrais de folhas caducas. A leveza dos miúdos dançarinos de kuduro, a ousadia dos putos, pilotos imprudentes de moto, e a birra dos kotas. As catorzinhas. A corrupção amplamente impregnada em todos os níveis sociais. Elementos imediatamente identificados na minha chegada. Após três meses, tudo permanece no mesmo lugar. A diferença é que tive oportunidade de caminhar um pouco entre eles. Hoje olho para Luanda e emprego à cidade um novo significado.

Angola promete. José Eduardo dos Santos, presidente da maioria há 27 anos, governa absoluto no território que foi colônia portuguesa por cinco séculos, lavado por mais de três décadas de sangue do conflito armado mais extenso do mundo ocidental. Promete, mais pra frente, ser alguma coisa passível de compreensão. Digo isso porque, até então, em pleno processo de reconstrução nacional, saio com a sensação de ter pisado em um território sem definição. Olho ao redor e sinto como se tudo e todos seguissem embalados por uma profunda ressaca. O caminho, pra onde o futuro aponta, não me parece promissor.

Aqui estive por cem dias, o suficiente para me revirar de ponta-cabeça. Hoje, com a mala feita, faltando poucos dias para deixar o país, pondero com tranquilidade a minha estada em Angola. Foi na medida certa. Por motivos vários, era necessário a minha vinda. E por outros motivos vários aqui vividos, não poderia ter sido um dia a menos nem a mais.

Falo isso porque vivi tudo ao extremo. Do profissional ao pessoal. Até tive, pela primeira vez na vida, medo do escuro. Medo real, longe de qualquer bicho papão subjetivo. Medo por ter que circular noite a fora em uma cidade desabastecida de luz elétrica, onde aproximadamente 4 milhões de pessoas vivem excluídas nos musseques.

Luanda está longe de ser uma cidade acolhedora. A falta de infra-estrutura, em um universo composto por acirrado desnível social, somado à instabilidade geopolítica - principalmente a situação atual externa, nos países vizinhos - elimina, por exclusão, a condição mínima de bem- estar. O fato de ser estrangeiro pesa ainda mais. Embora seja mão-de-obra necessária à reconstrução do país, o tratamento por parte da maioria da população é hostil, xenofóbico. E tem lá suas razões... A cidade exige, de quem aqui está, pulso firme e estômago forte. Não há muito tempo pra pensar, apenas é necessário agir. Ou melhor, reagir. O que compensa são os objetivos pessoais, o mergulho na cultura africana e, principalmente, tudo aquilo que a gente deixa e recebe ao lançar o corpo no mundo, como as relações estabelecidas em meio ao caos, aquilo que entendo como prova sincera de amizade.

Luanda grita porque assim é necessário para se consolidar como nação. Meus sentidos já não suportam tanta agitação. Volto pra casa em busca de sossego. Para os que me aguardam, muxima é o que levo de melhor após ter conhecido esse pedaço da África.

5 de julho de 2008

Se vê que vai cair
Deita de vez, ó nêgo
Junio Barreto

O diamante é só um lápis que não deu certo
Denis Rivera

4 de julho de 2008

Para apalpar as intimidades do mundo
é preciso saber (...)
como pegar na voz de um peixe
Manoel de Barros

3 de julho de 2008

2 de julho de 2008

Hai que endurecer
Um coração tão fraco
Prá vencer o medo
Do trovão
Sua vida aponta
A contramão...
Lenine e P. Moska

Bahia ou Angola?


Arredores do Benfica

Eu quero ver
Quando Zumbi chegar
O que vai acontecer
Jorge Ben

1 de julho de 2008

Começa hoje minha contagem regressiva de volta pra casa.