2 de fevereiro de 2009

29 de janeiro de 2009

A terra gira pra nós dois
Um ano é pouco pra depois
O mundo é largo pra quem fita
Querer é tanto para a vida
Lenine

21 de janeiro de 2009

Replay, hoje!

Yes, we can
Barack Obama

26 de dezembro de 2008

Té pároano, pessoal!

Se paz e equilíbrio pudesse ser comprado na farmácia da esquina, distribuiria em doses homeopáticas a todos que estão ao meu redor. Feliz 2009. Que seja um ano novo em nossas almas! BEIJO ABRAÇO CARINHO AMIZADE HARMONIA PROSPERIDADE HONESTIDADE VERDADE INTEGRIDADE AMOR GENTILEZA FELICIDADE MAIS BEIJO E MAIS ABRAÇO CUMPLICIDADE APOIO SOLIDARIEDADE COMIDA DINHEIRO CASA ESCOLA FÉ RAPADURA TRANQUILIDADE NATUREZA BONDADE CERVEJA SOL PRAIA VERDE AZUL AMARELO E + AMOR!

Salvador, BA [7]

Um bom lugar para tomar café e apreciar a Baía de Todos os Santos.
Santo Antonio Além do Carmo.

25 de dezembro de 2008

23 de dezembro de 2008

Ho, ho, ho... Feliz Natal pessoal!

“E você, meu amigo e minha amiga, não tenha medo de consumir com responsabilidade (...) quando você e sua família compram um bem, não estão só realizando um sonho. Estão também contribuindo para manter a roda da economia girando. E isso é bom para todos", presidente Lula*


O banner estendido na faixada externa do Shopping Barra avisa: aberto até 1h da madrugada, aproveite!

Esse espírito consumidor-desenfreado que nos impulsiona em datas estratégicas sempre que causou certo incômodo. Chega a ser um absurdo não ter o pé da árvore rodeado de presentes no fim do ano. Não que eu seja imune ao prazer de gastar dinheiro com bens não duráveis, não posso dizer isso de forma alguma. De uma forma moderada, também estou inserida no processo. Mas é que essa histeria que empurra 92,99% da população para os centros comerciais especialmente no período natalino é mais do que uma piração.

Em pronunciamento à Nação*, nesta segunda-feira (22), o presidente Lula pediu que o brasileiro compre para a “roda da economia” continuar “girando” diante da instabilidade financeira mundial. "A crise não afeta o Brasil. O país está preparado para as turbulências e vai continuar crescendo próximo ano", garantiu. Confesso, estou intrigada.

Tudo bem que o apelo
emotivo é grande: afinal O Bom Velhinho precisa encher o sacão vermelho de presentes e fazer isso para salvar o Brasil não vai ser visto como um martírio. Pelo contrário. Se é pelo bem na Nação, menos um pecado nesse fim de ano.

Ao consumir, o cidadão garante a produção da indústria, as vendas no comércio e a manutenção de empregos. Segundo Lula, o governo tem feito sua parte para evitar os efeitos da crise e cabe ao brasileiro também ajudar. "Se você está com dívidas, procure antes equilibrar seu orçamento. Mas, se tem um dinheirinho no bolso ou recebeu o décimo terceiro, e está querendo comprar uma geladeira, um fogão ou trocar de carro, não frustre seu sonho, com medo do futuro”, orientou o presidente.

Botando na ponta do lápis, são poucos os que fazem alguma associação de fato ao nascimento do Menino Jesus. Nesse exato momento, por exemplo, muitos que me lêem vão me chamar de piegas caso eu resolva citar uma passagem bíblica. E existem até os que questionam a veracidade da data 25 de dezembro como real dia do nascimento do Salvador. Hum. É de se pensar...

Enfim. O que quero dizer é que acho irônico esse movimento desenfreado rumo às compras partir justamente por parte do governo. Mais uma vez me sinto desamparada, sem a devida proteção do Estado num momento de instabilidade mundial. Cadê o Banco Central? A Casa da Moeda, os investidores internacionais?

Neguinho passa o ano todo reclamando que não tem dinheiro, que tá no vermelho, que não sabe mais o que fazer, a grana tá curta, aperta aqui e acolá, parcela a geladeira em 24 meses no novo programa de economia da Coelba, e, no fim do mês, ainda sim, não sobra nada. Mensalidade atrasada do plano de saúde, matrícula do filho, material escolar. As férias na praia indo pelo ralo, as paredes do apê esquentando. Gastos extra com remédios de última hora. Balé da filha só paroano.

Aí chega o dia de receber o glorioso 13º que, de alguma forma, serve pra nos gratificar - ao menos simbolicamente já que a mais valia aplicada sobre o suor do nosso salário supera o complemento recebido por um ano de serviço prestado.

PIMBA. Em menos de uma semana, todo esforço acumulado nos últimos 12 meses, é entregue rapidamente às caixas registradoras dos shoppings centeres. E agora com uma justificativa-plus: o apelo do presidente.
“Quando você e sua família compram um bem, não estão só realizando um sonho. Estão também contribuindo para manter a roda da economia girando. E isso é bom para todos”, acrescentou. Bom para todos? Vai entender.

O "fenômeno" - assim me atrevo a classificar essa embreaguez coletiva - seria plausível
de clemência não fosse tamanho despaltério sustentando uma manobra econômica. Senhor presidente, gostaria de informá-lo que viver no Brasil é caro. Me desculpe, não posso gastar minhas economias com futilidades muito menos investindo do Estado. Aplicar dinheiro no comércio é um investimento é sem retorno: quem faz doação no fim de ano é o Papai Noel. O brasileiro rala pra garantir o mínimo - um prato de comida ou um punhado de conforto. O dia de amanhã ninguém sabe. É necessário poupar para se salvar.

Entre outras medidas citadas pelo presidente como decisão tomada pelo governo para evitar uma recessão no país, temos o controle da inflação, redução da dívida pública, diversificação dos produtos de exportação e a redução de impostos para estimular o consumo. Além de uma reserva internacional de US$ 201 bilhões, aumento no número de empregos com carteira assinada, redução de impostos para estimular o consumo, reforço no caixa dos bancos estatais e quitação de dívidas com organismos internacionais (FMI). "É o melhor natal desde 2003", finalizou Lula. Sapato nele!

(*) em pronunciamento nesta segunda-feira, dia 22, em cadeia nacional de rádio e televisão.

Salvador, BA [6]

De tudo um pouco. Cacarecos no Santo Antonio Além do Carmo.

20 de dezembro de 2008

A partir de hoje sou uma pessoa largada!

Despertador: o objeto mais detestável que habita o meu quarto. Finalmente foi pára o espaço! Aquele tintilar que me obriga a sair da cama e encarar o mundo em momentos inconvenientes, contrariando a lei de descanso exigida pelo corpo não mais me atormentará nos próximos dias. Segunda-feira é dia de ir à praia. Terça-feira almoço em Praia do Forte. Quarta não me procure. Quinta a noite vai ser boa. Sexta-feira foi feita pra só levantar depois de meio-dia. Sábado, vamos sair? Domingo vou ver o sol nascer. YES. Qualquer pessoa normal precisa de recesso no fim do ano. Fica a dica.

19 de dezembro de 2008

Tanto

Tanta dor, tanto sofrimento.
Tanto desconforto.
Dói em mim, dói em você.
Dói mais em você, eu sei.

Que lógica inexplicável é o amor: transbordo porque você está vazia. A paz que falta em você me sufoca. Não pode ser uma porção exclusivamente minha. Temos que dividir. Metade minha, metade sua. E o espaço que sobrou em branco a gente preenche com mais um tanto. Tranqüilidade, força e harmonia. Detalhes íntimos em sintonia. Se a sua dor pudesse ser toda minha, misteriosamente eu me livraria. Me livraria desse desconforto, desse entristecer, dessa falta de vontade de ser eu e ser mais você. Você plena. Bonita e exuberante. Você em essência, imune a qualquer tormenta.

Tanto amor, tanto desalento.
Tanto desmonoramento.
Passará em mim, quando passar em você.
Que passe logo em você, eu sei.

15 de dezembro de 2008

Salvador, BA [5]

"As cumadi". Santo Antonio Além do Carmo. Ou: "Só se vê na Bahia".

13 de dezembro de 2008

Salvador, BA [4]

Pelourinho. Ou: O Cortiço.

11 de dezembro de 2008

Eu não espero pelo dia em que todos os homens concordem
Apenas sei de diversas harmonias bonitas
Possíveis sem juízo final...
Caetano

Salvador, BA [3]

Ladeira do Carmo. Centro Histórico

8 de dezembro de 2008

Um dia diferente

Chove forte lá fora. Quase não consigo enxergar os prédios altos que limitam o horizonte. Uma camada cinza, suspensa no ar, como se fosse uma cortina, atrapalha a visão. Tem vento, mas não está frio. Alguns pontos da cidade devem estar alagados. Normal. Estou sem sono, mas não tenho pressa em levantar da cama. Passa do meio-dia. Ainda não escovei os dentes, sinto gosto de vida na minha saliva. Não tenho horário, não tenho que ir trabalhar. Inédito.

Poderia ser mais um dia de chuva qualquer: trânsito lento, a barra da minha calça ensopada, meu humor prejudicado, sombrinhas virando ao vento. E se assim fosse, não estaria aqui sentada bocejando essas linhas descompromissadas. Hoje tudo está diferente. Não preciso falar com a atendente da Codesal. Não preciso calçar galochas para sair em busca de desabrigados. Não vou consultar a previsão do tempo nem São Pedro será incomodado. O único compromisso do dia vem de mim para mim mesma. Sinto um conforto inabalável. Posso passar o dia de pijama andando de meia pela casa. E sem culpa: não estou desempregada. É o meu primeiro feriado nos últimos cinco anos. E caiu justo numa segunda-feira, pra prolongar a satisfação. Planejei ir à praia - nadar, ler um livro, me espalhar na areia. Meu programa predileto para um dia de descanso. De repente, abro o olho, o céu desaba em água, mudo os planos, e, ainda sim, há satisfação. O edredon aquece um romance na minha pele. Pra que levantar? Posso me esticar, rolar de uma ponta a outra. O colchão não está frio, sinto uma respiração na minha nuca. Há vida ao meu lado.

Que fique aqui registrado, para jamais ser esquecido. Hoje, 8 de dezembro. Dia de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Salvador e de Santa Maria. Talvez essa sincronia traga um pouco de explicação à minha intensa relação com os que vêm dessa cidade gaúcha. No meu calendário puxei um asterisco. Agora a data pode ser lida como a vez que voltei a gostar dos dias de chuva.

4 de dezembro de 2008

Salvador, BA [2]

para um certo Figueiredo


Centro Histórico, Pelourinho.

1 de dezembro de 2008

Um devaneio qualquer

Os segredos ocultos entre a razão e o espírito podem ser decifrados apenas por quem alcança as estrelas. E essas, por sua vez, só podem ser vistas com perfeição, em sua plenitude, quando há uma profunda escuridão. Pequenos mistérios que vão além, muito além, de uma vida breve.

Salvador, BA

Por volta das 17h30, na última sexta-feira, no Porto da Barra.
Fim do dia, quase sem sol. E o povo nada de arredar o pé da praia.

28 de novembro de 2008

"My little portrait 2"



Sábado x Segunda-feira. Sol x Chuva
Mera questão de estar entediada ou não.

25 de novembro de 2008

Ontem

Um amor assim violento
Quando torna-se mágoa
É o avesso de um sentimento
Oceano sem água
Caetano

Hoje

Dessa coisa que mete medo
Pela sua grandeza
Não sou o único culpado
Disso eu tenho a certeza
Caetano

E sempre

Sete mil vezes eu tornaria a viver assim (...)
Sete mil vidas, sete milhões e ainda um pouco mais
É o que eu desejo (...)
Noite de calma e vento, momento
De preces e de carnavais
Caetano

Tudo em branco: caminho

Uma página em branco me pede um rabisco. Precisa ser ocupada. Pode ser uma palavra, uma linha fina, um traço qualquer. Atiro-os sem compromisso. É um mundo que se abre. Mil e uma opções, possibilidades disponíveis, logo ali à distância da mão. Quando tudo é nada e nada é, por onde começar já que tudo pode ser?

24 de novembro de 2008

Enquanto isso... na sala de justiça...

Por motivos diversos - cuja justificativa vai de uma acentuada preguiça mental por parte da autora com picos crônicos de falta de criatividade atrelado a uma eventual falta de tempo devido a excesso de trabalho, além de horas afinco dedicadas a entretenimento de alta qualidade -, o blog ficou sem atualização nas últimas semanas, com recados ultrapassados no tempo, parecendo um mural de cortiça abandonado num corredor da repartição pública. Aos cinco leitores que nunca me deixam, peço desculpa. Deixo a promessa de que daqui pra frente será diferente.

Antes de enveredar nas últimas novidades, não poderia deixar de postar dois vídeos do CQC veiculados logo após a vitória de Barack Obama. Desconsiderem o delay, o que vale mesmo é o resgistro. Enjoy it.




6 de novembro de 2008

A julgar pelo Brasil, mais precisamente pela Rede Globo,

o mundo inteiro regozija-se pelo fantástico desempenho do Barack.

Não duvido nada que, a qualquer momento,

entre o Galvão Bueno histérico:

"Obaaaaamaaaaaaa... ééééééé do Brasiiilll!!!".

E a Míriam Leitoa, com aquela cara de mal usada:

"Sensível, o mercado apresenta fortes tendências de recuperação em todo o mundo, exceto no Brasil".

Depois de Osama, Obama.

Ari Coelho, em Obama nas alturas

5 de novembro de 2008

Da série "my little portrait"

Debaixo dágua ficaria para sempre ficaria contente
longe de toda gente para sempre no fundo do mar
Mas tinha que respirar
Todo dia... todo dia... todo dia
[Arnaldo Antunes]

Ô bama...

Um dia vou contar aos meus netos que, aos 24 anos de idade, quando meu coração cambaleava no ritmo da crise mundial, um fim de ano onde tudo parecia estar perdido, vi os Estados Unidos elegerem um presidente negro, filho de um queniano. Um presidente improvável até mesmo no nome de batismo: Hussein. Nascido no Hawaii, pegador de jacaré ainda por cima. Um presidente que, pela primeira vez, contou com a simpatia de Fidel. E vou ajeitar os óculos na ponta no nariz pra dizer que foi um grande dia, com muita gente mobilizada, a começar pela mídia que fez o favor de propagar um tsunami de euforia. Pois embora a disputa fosse lá em cima, na América do Norte, onde o Mickey mora, uma potência distante sustentada por nós, subdesenvolvidos, uma aura de comoção e esperança embriagou até o confeiteiro da padaria de Ondina. Grande feito, finalmente uma família negra na White House. Pelo fim da WASP, pelo momento histórico, pelo recorde de eleitores, pela emoção, pela fé que persiste, meu voto é Obama. Agora quero saber se ele vai mandar tirar as tropas do Iraque e se vai ter um pouco mais de amor por nós, latinos. Ô bama... não me leve a mal... mas meu receio é que tudo termine em samba.

4 de novembro de 2008

Deus protege os bêbados e as criancinhas.
Vítor Rocha

3 de novembro de 2008

Felicidadessss, Nana!

Ela faz história!
Hoje senti o sabor de lembranças gostosas vindas de Santa Maria. Meus sentidos captaram algo além do aroma do queijo fresco, da carne assada no capricho, do xis extra grande, do mate quente e do vinho pisado no quintal. O apego a lugares distantes, por onde tenho passado nos últimos anos, vem daquele sorriso gravado na memória, dos queridos que deixo pra trás a cada despedida. Aí um dia assim de repente, do nada e reluzente, dá vontade danada de reencontrar essa gente. Abraçar, conversar, apertar e beijar. Tagarelar, esparramar. Se estivesse por lá, hoje teria saído para comemorar o aniversário dela em companhia de um punhado de queridos. Eles me pediriam um acarajé - que em hipótese alguma eu poderia fazer, hehehe - e eu continuaria a tecer mil e uma perguntas sobre nossas pequenas grandes diferenças culturais. Eles iam dar risada do meu sotaque e eu ia insistir que o gaúcho [no geral] é um povo meio frio. Ou melhor, travado. Peculiaridades a parte, "o mundo é um moinho"*. Não demora mais na frente a gente se encontra de novo, em um novo lugar, com muita novidade para contar. Intercâmbio de verdade é quando compartilhamos a vontade de estar junto novamente. Aquilo que chamamos saudade. E não apenas idéias. Tá ligado? Quem vier de lá, traga-me uma Polar!


(*) Salve o grande mestre Cartola

2 de novembro de 2008

Vagabundeio só por esta vida
Nessa avenida você não está
Eu não sou nada se falta você
vou para o Ilê Aiyê te procurar
Miltão

31 de outubro de 2008

Velha Bahia

Santo Antônio Além do Carmo. Salvador, BA

29 de outubro de 2008

Quando me pergunto se você existe mesmo, amor
entro logo em órbita no espaço de mim mesmo, amor
Vinicius

25 de outubro de 2008

21 de outubro de 2008

É pedir muito?


Santorini, Grécia. É dela.

Não sei se é natural do ser humano dificultar as coisas. Ou se a parte boa da vida é por natureza difícil. Só sei que tem umas coisas que não dá pra deixar de querer. É que nem beijo na boca ao amanhecer.

16 de outubro de 2008

Deixa ver, com meus olhos de amante saudoso
A Bahia do meu coração
Deixa ver, baixa do Sapateiro Charriou, Barroquinha,Calçada, Tabuão
Sou um amigo que volta feliz pra teus braços abertos, Bahia
Sou poeta e não quero ficar assim longe da tua magia
Deixa ver, teus sobrados, igrejas
Teus santos, ladeiras e montes tal qual um postal
Dá licença de rezar pro Senhor do Bonfim
Salve a Santa Bahia imortal
Bahia dos sonhos mil
Eu fico contente da vida em saber que Bahia é Brasil

11 de outubro de 2008

O mundo me fascina

No reflexo, uma baiana e uma gringa: Nana, gaúcha de sangue italiano da Quarta Colônia.

Pequena grande confissão sobre Angola

Faz meses que cheguei da África, nem na Bahia estou, e ainda sim muita gente me pergunta como são as coisas por lá. A curiosidade é grande, balança mais que atração de circo. Todo mundo quer saber como é, como foi, como será. Todo mundo quer ir, faz como? Fala com quem? É difícil, será que dá? São algumas das perguntas que chegam a mim com freqüência. Considerando que a curiosidade alheia é sempre a mesma, tenho cogitado a possibilidade de gravar uma série de FAQ sobre o dia-a-dia em Luanda. Ao ser lançada a próxima pergunta, bastaria apertar play. Simples assim. Pouparia minha beleza, meus ânimos, meus nervos.

É tão chato falar sobre Angola. Tão tão tão... tão. Das poucas vezes que tentei explicar, vi nos olhos diante de mim sinais nítidos de que não fui compreendida. Alguns me rotularam de fraca por ter ficado menos que o previsto. Outros, de fresca, antipática. Salve umas conversas que tive com pessoas especialmente queridas, universo restrito, possível de contar a quantidade de seres incluídos com auxílio dos dedos de uma única mão.

Em resumo, pra quem quer saber, a rotina é absurdamente difícil. A cada 12h você se depara com um absurdo. Ou seja, são, pelo menos, dois absurdos por dia... no mínimo. Mas dentro daquele contexto, não é nada demais, nada anormal. Afinal não ter água em casa, ficar horas e horas preso no engarrafamento ao lado de pessoas armadas, famintas e/ou amputadas, com motoristas dirigindo loucamente, sendo você especialmente conduzido por uma criatura que não entende de direção defensiva, sequer sabe o que fazer ao engatar a ré, e, ainda assim, ele é o seu motorista a te transportar em um veículo nitidamente avariado. Não ter luz ou pegar malária... ahhhh que frescura, que bobagem. Tão trivial, tão comum. Você recebe em dólar, é pago pra isso. Evite o desgaste, pra que questionar? Só há duas saídas: engula o espanto ou depressa pule fora. Porque inevitávelmente, todo mundo vive esse ritmo - pobre ou rico, nativo ou forasteiro. Em pouco tempo fica fácil mapear a escala dos mais atingidos. Veja bem, não há o grupo dos não-atingidos. A diferença é que uns são mais outros são menos.

E ainda tem a tal da ética profissional. Bastidores sejam preservados. Sobre governo, prática bélica, instabilidade geo-política, chefe de estado - resumo de uma história atual, nua, crua e viva -nem tudo pode ser dito. E tem a bagagem subjetiva, aquele punhado de impressões, sensações, surtos e delírios que, raramente, você consegue compartilhar na íntegra com alguém além do seu eu-íntimo. Aí sim o bicho pega. Não raro, é grande a minha aflição. Chamo pelo Cosmos, por Deus, Buda, Dalai Lama. Oxalá e a minha Baía de Todos os Santos. Quero colo, painho, mãinha, minha cama, suplico mais do que criança em noite de sonho ruim. Clamo pela força que vem das montanhas, o verde me purifica, alivia. E só descanso no azul. Tenho paz, quando me encontro na beira do mar.

Támeentendendo? Angola é aquele tipo de lugar que é preciso estar para compreender. Não é uma questão de assimilar, pesquisar, se informar. Esqueça os livros, os relatórios da ONU e demais agências internacionais. Não passam de dados, números, cifras. Mera estatística sem alcance sobre a realidade dos seres envolvidos. Até o Oráculo terá pouco a ensinar.




























"A descrição da vida não vale a sensação da vida"
Machado de Assis


Para entender Luanda, o esforço é outro. Diria até que passa por um processo muito mais simples, porém complexo: tem que viver pra sentir.

Reli o parágrafo a cima pra encerrar o post e veja só, perto do fim, me peguei no ato falho das idéias. Simples não combina com complexo. A condição "simples", automáticamente, elimina, descarta, qualquer tipo de emaranhado, dificuldade. Logo, o que é simples não pode ser complexo. Né não? Não. Não é não.

Eis o paradoxo da vida, quando deparamos com uma nova rima. Referênciais desconstruídos. De repente, dois mais dois dá cinco. Pequenos grandes detalhes, só a vida ensina. Por isso digo que pra entender África é preciso estar em África. Vivenciar, como se fosse um estado de espírito.

Vá lá e volte pra me contar. Quem sabe a gente não chega em algum lugar.

10 de outubro de 2008

Ironia não faz boa cama com a saudade.
O que é a saudade senão uma ironia do tempo e da fortuna?
Machado de Assis

8 de outubro de 2008

Sobre encontros, idas & vindas

Itaara. Balneário Pinhal, RS



Sobre esquinas, sentimentos & lugares






















Itaara. Balneário Pinhal, RS

7 de outubro de 2008

A notícia como ela é

ou seria (?) A vida como ela é

Cada 3 segundos muere un niño menor de 5 años por causas que podrían evitarse [+]

Cada tres segundos muere un niño en el mundo antes de cumplir los cinco años -10 millones cada año- y la mayoría de las veces por causas que podrían prevenirse, aunque el 99% de estos menores viven en países en desarrollo, según recuerda el último estudio de Save the Children.

Enfermedades como la malaria, el sarampión, el sida, la diarrea y la neumonía son las cinco causas fundamentales del 90% de las muertes de estos niños, la mitad de ellas se producen en seis países (India, Nigeria, República Democrática de Congo, Etiopía, Pakistán y China).

Muchas de estas enfermedades son evitables con vacunas o material sanitario de bajo coste, según ha explicado en la presentación del informe María Jesús Mohedano, de Save the Children, aunque ha lamentado que se mire con "resignación" la muerte cada año de estos 10 millones de niños.

----> Traduzindo a nota acima: a cada palavra que digito neste post morre uma criança vítima de doenças facilmente evitáveis. Aos minimamente sensíveis, é de partir o coração, né não? Não. Não é não. A gente acha que se comove com esse tipo de notícia, porque fomos 'politicamente bem educados' pra se importar com a miséria alheia ao invés de fechar os olhos como 'os burgueses malditos'. Alguns assim foram, pelo menos. Aí, vez ou outra, numa mesa de bar, rodeado de amigos, a gente passa horas e horas falando sobre dados, casos e estatísticas, índices elevados de miséria [guerra, fome, injustiças e doenças] no mundo. Assim como "Os sonhadores", de Bertolucci, somos rebeldes e bem informados. Pronto, é para os 'politicamente bem informados' que esse tipo de notícia é publicada. Agora eu pergunto: e daí? Em poucos minutos eu e você vamos desligar o computador. Antes de dormir vamos reclamar da vida. Veja bem, vamos reclamar da nossa vida. É típico do ser humano dar pouca importância ao universo ao redor. Salve algumas excessões como Madre Teresa, Gandhi, Sérgio Vieira de Melo e o Dalai Lama [esqueci de alguém?]. No geral, o que conta mesmo, o que angustia e nos faz perder o sono é, essencialmente, o nosso infinito particular. É o relacionamento em crise. É o filho que dá trabalho. É o pai, a mãe, a tia, o vizinho que não param de encher o saco. É a casa dos sonhos, a viagem dos sonhos, cada vez mais difícil de alcançar. O prazo na faculdade prestes a expirar, trabalhos pra entregar. É o chefe chato, no emprego chato, que insiste naquele papo chato e nem fala em aumento de salário. As contas pra pagar. O trânsito infernal, o candidato que não foi eleito, o político bandido que não foi preso. O príncipe que não chega. Etc etc etc, meu Deus! Como a vida é injusta... comigo. Depois do almoço e do jantar, vamos continuar jogando excesso de comida no lixo e quando o G8 for discutir o biodiesel, a gente vai ter medo de produzir combustível de plantinhas como soja ou dendê "porque pode faltar comida nos países subdesenvolvidos" [fale sério! ainda tem gente que cai nisso]. Depois de 'mais um dia de cão' [afinal nada dá certo... comigo], vamos continuar tomando 15 minutos de banho quente pra relaxar, sem se importar com um possível déficit de água no planeta. Afinal, a Europa e o Iraque que se cuidem! No Brasil não vai faltar água [será?]. Vamos continuar consumindo varias deliciosas guloseimas artificialmente aromatizadas, várias latinhas e trequinhos que nos saltam os olhos nas prateleiras, especialmente produzidos pela irrestível indústria dos bens de consumo não duráveis, mesmo sem saber o que fazer no final com as embalagens. Ah, é descartável. Joga no lixo! Alguém vem recolher mais tarde. E quando o pivete maltrapilho se aproximar na esquina, vamos acelerar o passo ou fechar a janela do carro, afinal, ele - pobre, desamparado e faminto - é uma ameaça. Afinal, ele fuma crack. Eu e você [bem nutridos] fumamos um baseado e nos banhamos de cerveja, diga-se de passagem. Né não? Tô mentindo? Agora me diga: pra que esse tipo de notícia 'mera estatística' é publicada? Volte pro início do post e conte quantas crianças acabaram de morrer. E me diga: por acaso mudou a sua vida? Fiz você perder o sono essa noite? Ou você, apenas, ganhou mais pontos no clube dos leitores bem informados sobre a realidade... alheia?













Contou?
Ok, agora desligue o computador e vá ler um livro - como de costume - pra continuar bem informado.

Politik kills Politik needs votes Politik needs your mind Politik needs human beings Politik need lies That's why my friend it's an evidence: politik is violence [Manu Chao]

6 de outubro de 2008

O que você sabe sobre o seu candidato?

Quem, de fato, ele é? Ou o que a campanha pintou para te mostrar?
É esse tipo de detalhe que a gente deve prestar atenção antes de votar.
2º turno em Salvador: João não!

5 de outubro de 2008

Nem tudo o que rima combina
Quer ver?...
Pão com limão
combina não.
Ari Coelho

3 de outubro de 2008

Felicidades, Betaaaaa!!!


Hoje vai ter uma fessstaaaa!!!
Cachaça com guaraná!!! Muitos doces pra vocêÊêÊê
É o seu aniversárioooo
Vamos festejar e os amigos recebeeeerrr
MIL felicidades e amor no coração!
Que sua vida seja sempre doce e emoção!!!

snif, snif... fiz o convite e num vou :(

2 de outubro de 2008

Só pode ser miragem...

a quantidade de homem bonito que tem nessa cidade.

1 de outubro de 2008

Saudade

há menos p e i x i n h o s a nadar no mar...

Para arejar a alma

















Um punhado de verde. Céu intenso, sol morno, vento fresco. Sabores românticos. E uma estrada.
É o que me basta.


Me gusta la Polar

Bahia com Santa Maria, atiradas num balcão, riscadas numa noite arriscada

Tá vendo esse rótulo largado em cima do balcão? Pura enganação. Esqueça a Ambev e similares. Cerveja de gaúcho é Polar. Olha aqui:

Otro lado en la calle

A Favorita

Lara devia matar Flora no final. Happy end. Fica a dica.

30 de setembro de 2008

Intuição








Tem alguma coisa errada aqui no blog.
Não sei o que é, mas não tô gostando.
Xô urucubaca!

24 de setembro de 2008

Fusca azul

para Bruna
Santa Maria, RS

17 de setembro de 2008

Pedaços do dia

Me impressionam as cores dos caminhos por onde tenho passado.
Santa Maria, RS.

Gente daqui

Conheci essa turminha hoje. Não apenas as três que aparecem na foto, mais um monde de "guri", de idade dos 10 aos 13 anos, alunos de uma escola pública de um bairro periférico em Santa Maria. A Pró desenvolve um projeto por lá, acabei indo por tabela, pra fazer umas fotos e conhecer a meninada.

Saímos cedo, mais um dia com frio de rachar, mínima de 7 graus. Aqui, além de frio é úmido. Díficil levantar. Cruzamos a cidade de carro. Aos poucos o Centro foi ficando pra trás, dando vez a casinhas de madeiras erguidas numa região enladeirada, com a calçada ainda por fazer em obras do PAC. Lá do alto, da parte menos favorecida da cidade, se tem uma bela vista.

Na escola, fomos recebidas por um vento gelado que varria o corredor, enquanto a criançada circulava apressada de um lado para o outro. Por debaixo da proteção - kit lã com duas blusas e casaco, além de uma super meia-calça por debaixo do jeans - ainda era possível sentir a temperatura morna revestindo a minha pele, embora a promessa fosse de frio ao longo do dia. Por um instante, tive a sensação de ser mais dolorosa a vida de crianças pobres em locais frios. Lembrei da personagem principal de A menina que roubava livros, Liesel, quando o inverno rigoroso no Leste europeu castigava deixando-a mais irritada, não bastasse toda injustiça que sofria, por ter uma história de vida trágica marcada desde o nascimento. As roupas não eram suficientes, a maioria bastante desgastada pelo tempo. A chuva doía, a casa era pequena, gelada e semi vazia. A sopa nem sempre esquentava porque nem sempre tinha o suficiente para todos. Ela gostava de bater em meninos. E os meninos gostavam de bater nela. Ler era difícil e, ainda sim, ela insistia. Liesel sobrevivia saboreando o gosto amargo da vida. Tive a sensação de ver várias versões dela passar por mim.

Tempo, tempo, tempo, tempo...

Gosto da metáfora das frutas.
Limas no quintal. Santa Maria, RS.

Tradição

Prenda voltando pra casa, depois da escola.
Esses dias dá pra ver uns gaúchos vestidos a caráter na rua.
É a semana Farroupilha. 20 de setembro é dia deles.
Camobi - Santa Maria, RS.

Cenas que vejo da janela de Melina

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Santa Maria, RS

15 de setembro de 2008

Pé de pêra

Faz frio.
Santa Maria, RS

14 de setembro de 2008

Cinema upload

atualizado às 22h50 do dia 17/9


De repente as pessoas voltam a enxergar, termina o filme. Sobe o letreiro, enquanto permaneço catatônica grudada na poltrona do cinema. Gostou?, pergunta um senhor de voz gentil, feição de avô, sentado ao meu lado. Nossa, adorei!, respondo ainda maravilhada. Eu não gostei. É muito triste, a vida não é triste assim.

Silêncio.

A conclusão do senhor com cara de vô me pegou de surpresa e me trouxe um punhado de questionamentos. Lamento ter levantado sem prosseguir o diálago. Se a vida não é triste (pra ele), onde será que ele vive? Por que a história de Saramago (pra ele) é tão irreal? Me veio a tona uma coisa que Camilla sempre me diz: as pessoas em São Paulo bloqueiam a realidade. Seria esse mais um caso de fuga premeditada? Até hoje não entendi direito o que aquele senhor quis me dizer.
Ensaio sobre a cegueira é o filme que mais desejei assistir nos últimos meses. Fissura que começou a ser cultivada desde o dia em que comecei a ler o blog do filme. Enfim, 12 de setembro, o grande dia do lançamento. Elegi como prioridade na minha despedida de São Paulo. É lindo o filme. Agora posso partir tranqüila para a temporada no interior do Rio Grande do Sul.

Levar Saramago para a tela do cinema, pra mim, soava como uma prova de fogo. É que ele tem um jeito tão peculiar de escrever que me dava a impressão de ser impossível manter "Saramago way of written" em qualquer outro suporte que não fosse o papel. Minha curiosidade era saber onde iria parar a elaborada engenharia da escrita. Caberia na tela do cinema? E caso não fosse possível ainda seria uma história de Saramago? Para mim, era como querer musicar uma pintura de Salvador Dalí.

Ansiedade desnecessária. Meirelles tem pegada de gênio para cinema... ainda mais com Charlone, na direção de fotografia. Aliás, colocar a cegueira dentro de um frame isso sim é um grande desafio. E pensar que a cegueira é fotografia branca. Ao invés de escuro, luz. Lindo, lindo. Recomendo demais... vão assistir.

Esses dias assisti também Linha de Passe (de Walter Sales) e Lemon Tree (de Eran Riklis, um iraniano). Em ambos existe uma dose de beleza extraída do que é triste. Ficção honestamente inspirada em retratos do cotidiano. Me fez lembrar uma reflexão lançada por Charlone, mês passado, no Festivel Internacional de Cinema da Bahia, durante apresentação da mesa de Fotografia para cinema. Charlone disse gostar mais quando a ficção brota da vida. Talvez Linha de Passe não tenha me sensibilizado muito pelo fato de a periferia de São Paulo ser uma realidade relativamente conhecida. Ineditismo oposto me veio de sobra no iraniano, embora as duas histórias sejam comoventes por causa dramaticidade do relato. Em Lemon Tree, um pomar de limão é a existência de uma viúva palestina na fronteira da Cisjordânia. Isso é vida no cinema da vida.

12 de setembro de 2008

Sessão da tarde

Encontrei ontem na Pinacoteca. Caetano por Vânia Toledo no frame de Bito.

Poeira urbana

Atrás desses prédios têm umas montanhas verdes. Acredite. Elas estão aí. Dava pra ver no dia que cheguei. Good-bye, São Paulo. Foggy-poluído, é hora de partir.

Encontre-me

São Paulo, SP

10 de setembro de 2008

São Paulo é um surto vez ou outra chamado realidade.

E de repente...

tive uma paixão súbita por São Paulo.
Registro aqui uma confissão.
São muitas idas e vindas, nos últimos anos, a essa cidade perdida. Talvez seja isso. Mas não vou forçar uma explicação. Dessa vez, simplesmente me tocou o coração. Acho que foi aquele vento gélido segunda à noite penetrando na minha nuca sem respeitar o cachecol. Ou então a menina de elegância discreta, de bicicleta numa rua de pedrinhas, esquina com a Mourato Coelho, fazendo pose debaixo de um ipê lilás florido. Lilás com cinza e pedrinhas: uma bela composição. Ou o som das rodas do skate cortando o asfalto sem freio. Nessa cidade, inesperadamente sempre se aproxima um rapaz de skate. E teve o casal deslizando de patins domingo a tarde na Paulista. Se bem que me chamou mais atenção o rapaz bonito, mochila nas costas, patins no pé, sacola de compras equilibrada na mão esquerda ao lado daquele monte de carros na Augusta. E o foggy-poluído falso simulacro londrino que não me deixou ver as montanhas lá no fundo. E o pedaço de pizza banhada por uma Original, de sobremesa um punhado de amigos. Risoto de pera com gorgonzola no bistrô... hummmm, inesquecível. Linha de Passe, Lemon Tree. Água com gás é no cine Reserva. Coisinhas eletrônicas baratinhas na Santa Efigênia. Material de fotógrafo gente grande bem carinho na 7 de abril. Paixãozinha boba, que nem as de menina: acaba logo na esquina. Eu sigo.

7 de setembro de 2008

Lembrança do dia

inspirado em Mia Couto

Em Luanda, nada necessita de entedimento.

4 de setembro de 2008

O fluxo da vida

Há um fio condutor que estrangula a minha rotina. É uma linha tênue e discreta, fininha, quase imperceptível. Todos o tem. E a forma como funciona dizem que é normal. Tenho dúvidas, contesnto. Chamo de linha da vida. Me empurra prum lado depois pra outro. Linha bamba de equilibrista, às vezes é difícil manter o passo firme. Às vezes percorro o trilho de olhos fechados, dou pulos e me empenduro com a mão. Com freqüência, feito um novelo de lã, dá voltas nos meus pés, sobe pra cabeça e, quando menos espero, fico louca. As horas passam voando, o dia vira noite antes do almoço. Elimino os diálogos em casa, fico tensa, quase não vejo os amigos. Horas e horas e horas debruçada sobre projetos com prazo prestes a expirar. Horas e horas e horas implorando pra tudo terminar. Quando cheguei de Angola, jurei de pé junto, no pé da cama, diálogo com olho fixo na imagem do santo, que isso ia mudar. Dar tempo ao tempo. E pensar que durou menos de dois meses. Aproveitar o dia, dormir à noite. Fazer, pelo menos, três refeições por dia. Aposentar o corretivo e o pó compacto, abusar apenas do rímel. Tomar um bronze regular com água de coco. Ver o dia mudar de cor e, perfeitamente, só levantar da cama quando o corpo autorizar. Ler mais, falar menos. Treinar momentos em silêncio. Fugir do ócio sem precisar se enforcar. Peixe contra a maré? Pior do que isso. É o mundo te empurrando com garras de lince invisível. Sei do perigo, quero me libertar. Só não descubro por onde começar.

2 de setembro de 2008

D'A Câmara Clara

O barulho do tempo não é triste: gosto dos sinos, do relógios -- e lembro-me de que originalmente o material fotográfico dependia das técnicas da marcenaria e da mecânica de precisão: as máquinas, no fundo, eram relógios de ver, e talvez em mim alguém muito antigo ainda ouça na máquina fotográfica o ruído vivo da madeira.

Roland Barthes

Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Mário de Andrade

1 de setembro de 2008